São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 2005

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NELSON MOTTA

Boca-livre eleitoral

RIO DE JANEIRO - Muita gente boa, por bons motivos, se enfurece quando ouve falar em financiamento público de campanhas eleitorais, ainda que como remédio para diminuir o prejuízo da corrupção na administração pública e no Parlamento.
É difícil acreditar que ladrões, espertalhões e fraudadores do atual processo irão tirar o time de campo e jogar limpo, ainda que por medo da lei. Afinal, eles vivem disso, são do ramo. Muitos se candidatam e gastam, continuarão gastando, o que for necessário apenas para gozar da imunidade parlamentar e do foro privilegiado para seus crimes.
Bancar as campanhas para tentar impedir, ou pelo menos dificultar, relações criminosas entre financiadores, partidos e candidatos, vai nos custar, calcula-se, mais de R$ 800 milhões além da fortuna em dinheiro público que já é gasto livremente pelos partidos e candidatos no horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão. Você sabe quanto custa todo esse espaço? Em horários nobres, todos os dias, em todas as emissoras? Sim, porque custam caro, claro. As emissoras são comerciais, vivem disso, de vender programas e anúncios.
Como? Pensava que era mesmo gratuito? Que as rádios e televisões davam de presente à democracia? Assim como não há almoço grátis, não há spots, promos, nem satélites gratuitos. Alguém tem de pagar essa conta. Adivinha quem? Nós, companheiros e companheiras. Porque o custo dessa veiculação resulta em dedução no Imposto de Renda dos veículos, uma fortuna que deixa de entrar nos combalidos cofres públicos.
Já não está de bom tamanho? Que país rico, civilizado e democrático oferece tal boca-livre publicitária milionária? E ainda nos querem tomar mais R$ 800 milhões para financiar a promoção desse pessoal?
Deveriam é reduzir drasticamente o horário "gratuito".


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