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CARLOS HEITOR CONY
O coaxar das rãs
RIO DE JANEIRO - Animal urbano, sempre ouvi falar em coaxar de
rãs, mas nunca soube exatamente o
que era isso. Até que li, num jornal
aqui do Rio, uma referência ao
"coaxar de rãs" a propósito das críticas que estão sendo feitas, ao Rio
em geral e ao carioca, em particular,
por conta do Cristo Redentor, que
foi considerado uma das sete maravilhas do mundo.
Alguma culpa o Rio deve ter para
purgar tanta e tamanha esculhambação vinda de outros Estados tão
ou mais maravilhosos. A cidade assumiu a pretensão e folgou com a
eleição -certo. No passado, ela já
havia assumido por conta própria a
condição de maravilhosa, contrariando a esposa de dom João 6º,
que, quando aqui chegou, em 1808
(vai fazer 200 anos daqui a pouco),
considerou a velha aldeia colonial
um burgo infecto, indigno de hospedar uma corte européia que estava fugindo de Napoleão.
E naquele tempo não havia balas
perdidas nem a polícia promovia
chacinas matando supostos marginais. E ninguém havia poluído a
paisagem com uma estátua grosseira, de braços abertos, num gesto
que parece pedir "me tirem daqui,
não tenho nada a ver com esta cidade amaldiçoada e leviana".
Somando tudo isso, desconfio
que as rãs são sábias e seu coaxar,
além de justo, é necessário para dar,
a nós cariocas, um pouco de vergonha que nos falta pelo fato de termos nascido num chão de pecado e
luxúria. O carioca é folgado por vocação e imprestável por opção. Nem
as balas perdidas acabarão com a
sua raça. Não precisa de um Cristo
Redentor, mas de um anjo exterminador.
Um dia, arrancaremos do morro
aquela estátua que consagra o nosso provincianismo mal informado e
ali colocaremos um mastro com
enorme cueca -e teremos então o
aplauso das rãs que louvarão nossas
artes e ofícios.
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