São Paulo, domingo, 15 de setembro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Ganharam. E agora?

SÃO PAULO - O BNDES convocou um seminário, para a quinta-feira passada, destinado a discutir globalização e desenvolvimento. Eis o resumo de uma das sessões, no texto de Mônica Magnavita, da "Gazeta Mercantil", jornal que não é exatamente um porta-voz do PSTU:
"O modelo econômico adotado pelos países da América Latina nos anos 90 aumentou a desigualdade social no continente. O colapso da Argentina é o melhor retrato do fracasso das políticas econômicas preconizadas pelo Consenso de Washington e defendidas pelos governos dos países latinos. Na Argentina, 20 mil pessoas ingressam na linha de pobreza por dia; 16,4 mil entram na faixa de indigência a cada 24 horas. No Brasil, o governo gasta em programas de segurança 10,3% do Produto Interno Bruto por ano. Isso significa o equivalente a um Chile por ano em combate à violência. E os resultados são pífios".
Parece resumo de debates habituais no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. É verdade que dele participou Ignacio Ramonet, o editor do mensário "Le Monde Diplomatique", um dos agitadores de Porto Alegre (no bom sentido).
Mas os demais participantes eram funcionários de organismos internacionais que nada têm de esquerdistas, entre eles Nancy Birdsall, uma das maiores especialistas mundiais no estudo da pobreza.
Talvez se possa dizer que a crítica ao chamado Consenso de Washington (o receituário neoliberal que se tornou hegemônico) está ganhando o debate intelectual.
Tanto é assim que não há um só candidato à mais importante eleição do mundo em desenvolvimento (a do Brasil) que seja visto como representante de fato fidedigno do Consenso de Washington.
O diabo é que ganhar, pela crítica, o debate intelectual não resolve. Falta definir o que pôr no lugar ou como reformar as reformas liberais, muitas das quais vieram para ficar.


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