São Paulo, domingo, 15 de setembro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

Beira-Mar, o sucesso

BRASÍLIA - Quem tem medo de Fernandinho Beira-Mar?
Eu, tu, ele, nós e, principalmente, eles: os candidatos. Se Benedita morre de medo, Lula igualmente. Se FHC também teme, Serra igualmente. E Garotinho tenta jogar para eles justamente para fingir que não teme, como se fosse possível.
Todos temem o efeito da matança de Bangu 1 nas próprias campanhas, porque a culpa pela guerra que grassa no Rio, e não só no Rio, é de todos. O único que não precisa recear o efeito eleitoral direto da rebelião comandada por Beira-Mar é Ciro Gomes. Mas nem isso ele soube capitalizar.
Em vez de discutir no seu programa eleitoral a violência, o desmando e o Estado paralelo que, no mínimo, constrangem seus adversários, o candidato da Frente Trabalhista preferiu entrar numa seara delicada: a doença de Patrícia Pillar.
Campanhas político-eleitorais são propícias ao vale-tudo, mas essa de Ciro foi abaixo de qualquer crítica. Na defensiva, meio sem graça, tratando de um tema tão pessoal num horário tão coletivo, ele deixou a sensação de juntar a própria verborragia com a falta de rumo de sua assessoria. A super-Patrícia tem força e carisma, talvez seja a melhor imagem da campanha. Não merece isso. Nem os eleitores.
Mas voltando ao Beira-Mar: na falta de saídas viáveis para a escalada da violência e para a desfaçatez com que os bandidos acuam autoridades e controlam Estados, os candidatos discutem quem tem mais a perder eleitoralmente com a tragédia urbana e com as cenas do maior bandido vivo, risonho e satisfeito após de matar os rivais sob as barbas públicas.
Na verdade, quem mais deve temer o Beira-Mar, esteja ele no Rio, em Brasília ou em qualquer cidade brasileira, não é a Benedita, o Lula, o FHC, o Serra, o Garotinho e muito menos o Ciro. É você. Ele é capaz de tudo, e o Estado brasileiro não é capaz de nada contra ele. O que sugere que a fórmula deu certo e pode se multiplicar por mil e um Fernandinhos Beira-Mar por aí.


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