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RUMO À DITADURA
Demorou ainda menos do que
o esperado a nova investida do
presidente russo, Vladimir Putin, sobre as frágeis instituições democráticas do país a pretexto de combater o
terrorismo. Apenas dez dias após o
trágico desfecho do seqüestro de
Beslan, no qual morreram mais de
300 reféns -a maioria crianças-, o
cada vez mais autocrático dirigente
russo propôs alterações profundas
no sistema eleitoral.
Se aprovadas -e ninguém duvida
de que serão-, as medidas não apenas reforçarão os poderes presidenciais como ainda cuidarão para que
não surja, pelos próximos anos, no
cenário político russo nenhuma figura que possa remotamente fazer
sombra a Putin.
Entre as alterações praticamente
exigidas pelo líder destacam-se o fim
das eleições diretas para escolher os
governadores regionais, que passariam a ser nomeados pelo chefe de
Estado, isto é, por ele mesmo, a limitação ao número de partidos políticos e a extinção do sistema distrital
misto para a definição da Duma (câmara baixa do Legislativo), que passaria a ser feita exclusivamente através de listas partidárias. É um quadro
no qual se tornam extremamente pequenas as chances de despontar um
novo político com prestígio popular
na Rússia: ele não teria eleições a disputar em que pudesse ser consagrado por uma maciça votação.
Desde sua ascensão ao poder em
2000, Putin já implementou uma série de medidas autoritárias. Cerceou
a imprensa, impôs restrições ao direito de manifestação, perseguiu adversários políticos e colocou vários
de seus ex-colegas do serviço secreto
em postos-chave da administração.
Na Tchetchênia, suas forças atuaram
com mão-de-ferro, matando e torturando suspeitos de pertencer a grupos separatistas locais.
A ofensiva terrorista das últimas semanas, que culminou no massacre
de Beslan, era tudo o que Putin precisava para lançar mais uma ofensiva
contra a já combalida e acuada democracia russa.
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