São Paulo, quarta-feira, 15 de setembro de 2004

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RUMO À DITADURA

Demorou ainda menos do que o esperado a nova investida do presidente russo, Vladimir Putin, sobre as frágeis instituições democráticas do país a pretexto de combater o terrorismo. Apenas dez dias após o trágico desfecho do seqüestro de Beslan, no qual morreram mais de 300 reféns -a maioria crianças-, o cada vez mais autocrático dirigente russo propôs alterações profundas no sistema eleitoral.
Se aprovadas -e ninguém duvida de que serão-, as medidas não apenas reforçarão os poderes presidenciais como ainda cuidarão para que não surja, pelos próximos anos, no cenário político russo nenhuma figura que possa remotamente fazer sombra a Putin.
Entre as alterações praticamente exigidas pelo líder destacam-se o fim das eleições diretas para escolher os governadores regionais, que passariam a ser nomeados pelo chefe de Estado, isto é, por ele mesmo, a limitação ao número de partidos políticos e a extinção do sistema distrital misto para a definição da Duma (câmara baixa do Legislativo), que passaria a ser feita exclusivamente através de listas partidárias. É um quadro no qual se tornam extremamente pequenas as chances de despontar um novo político com prestígio popular na Rússia: ele não teria eleições a disputar em que pudesse ser consagrado por uma maciça votação.
Desde sua ascensão ao poder em 2000, Putin já implementou uma série de medidas autoritárias. Cerceou a imprensa, impôs restrições ao direito de manifestação, perseguiu adversários políticos e colocou vários de seus ex-colegas do serviço secreto em postos-chave da administração. Na Tchetchênia, suas forças atuaram com mão-de-ferro, matando e torturando suspeitos de pertencer a grupos separatistas locais.
A ofensiva terrorista das últimas semanas, que culminou no massacre de Beslan, era tudo o que Putin precisava para lançar mais uma ofensiva contra a já combalida e acuada democracia russa.


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