São Paulo, quarta-feira, 15 de setembro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Bola murcha, bola cheia

SÃO PAULO - Com a competência habitual, Rodrigo Bueno mostrou ontem, nesta Folha, as espetaculares dimensões de mais uma diáspora brasileira, a dos jogadores de futebol. Só nas 32 equipes que disputam a fase final da Liga dos Campeões europeus, há 65 brasileiros -ou dois por time em média.
O êxodo não é novidade, mas a dispersão é. Até não faz tanto tempo assim, os jogadores brasileiros migravam para Itália, Espanha e Portugal, com um ou outro tomando o rumo do Reino Unido e da França. Hoje, há tupiniquins em exotismos futebolísticos como o Maccabi Tel-Aviv, de Israel, e o CSKA, de Moscou.
Ontem, no jogo CSKA e Porto (Portugal), oito brasileiros poderiam ter se enfrentado se tivessem sido escalados -ou mais de um terço dos 22 atletas que começam cada partida.
Se me perdoam os intelectuais que acham futebol o ópio do povo, há aí um problema econômico e social nítido: a fábrica Brasil de jogadores, de longe a melhor do mundo, não consegue mais produzir jogadores talentosos em quantidade suficiente para atender tanto a demanda interna como a externa.
Resultado inexorável: como a demanda externa é muito mais podero$a, "o êxodo de jogadores (...) e as dificuldades financeiras dos clubes vão deixando os torcedores brasileiros cada vez mais entregues a mediocridades triunfantes", como Marcos Augusto Gonçalves escreveu ontem, também nesta Folha.
Como na economia moderna, lazer é um componente importante. Tem-se não apenas um prejuízo para os torcedores mas também para a atividade econômica. Só os 32 clubes da Liga dos Campeões receberão por ela 600 milhões, o que dá uns R$ 2,2 bilhões, o suficiente para ressuscitar alguns clubes e, por extensão, ajudar a economia.
No ritmo em que vai a crise interna no futebol, até a TV vai acabar mostrando mais jogos europeus do que brasileiros, até porque, como escreveu Rodrigo Bueno, "o campeonato brasileiro da elite" está lá.


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