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GABRIELA WOLTHERS
A caminho do nunca?
RIO DE JANEIRO - O vice José Alencar tornou-se uma daquelas figuras
folclóricas que ninguém leva a sério,
principalmente quando usa metáforas amareladas pelo tempo. A mais
comum compara o Brasil a um corcel
que quer galopar, mas é impedido pelas rédeas da política econômica.
Não demora muito para sermos remetidos à década de 70 e lembrar do
filme "O Corcel Negro".
Mas, quando limpamos a poeira do
discurso, vemos que ele diz que a política econômica utiliza as taxas de
juros para achatar o consumo e combater a inflação. O detalhe é que o
Brasil é um país de subconsumo. E
simplesmente não dá para achatar o
consumo de quem não consome.
OK, dirão os especialistas, mas ele
simplifica demais a questão. É preciso ver que o país tem pouca poupança. Que o Estado consome demais.
Que ainda sofremos com a vulnerabilidade externa. Que o superávit comercial pode ser comprometido se o
consumo interno crescer e as importações aumentarem. E por aí vai.
A questão é que essas ponderações
são repetidas há uma década. A frase
dita ontem por Palocci, de que o Brasil tem de consolidar um ajuste fiscal
maior para poder ter juros menores,
já ouvimos mil vezes. Sinceramente?
Ninguém agüenta mais.
Não se trata de defender um plano
mágico. Mas será que o caminho para o crescimento tem de ser tão longo
a ponto de nunca ser alcançado? Será
mesmo necessário arrochar a economia cada vez que ela dá os primeiros
sinaizinhos de que está apenas saindo da lama?
Sendo propositadamente piegas, será que perdemos o direito de encontrar os amigos e, pelo menos uma vez,
não ter de ouvir uma história de alguém que foi demitido? De percorrer
a avenida Brasil, no Rio, ou a Washington Luís, em São Paulo, e deixar
de constatar que mais empresas fecharam? E, em contrapartida, ler que
os lucros dos bancos batem um recorde em cima de outro?
Enfim, será o país tão medíocre,
mas tão medíocre, que não agüenta
um crescimento de 4,2% no semestre?
O primeiro indício será dado hoje pelo Comitê de Política Monetária.
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