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RUY CASTRO
Besouros premiados
RIO DE JANEIRO - Há dias, no
aeroporto de Amsterdã, a polícia
holandesa descobriu uma carga
com cem besouros recheados com
cocaína num vôo originário de Lima, no Peru. Cada besouro continha cocaína no valor de US$ 11 mil.
Depois de "malhada" com pó de
mármore, aspirina, bicarbonato ou
farinha, a droga valeria dez vezes
mais nos subterrâneos da cidade.
Ué! Mas a Holanda não é um
exemplo a ser seguido quando se
trata de liberar as drogas? Com que,
então, em Amsterdã, nem os besouros escapam de levar uma geral e, se
premiados, são apreendidos como
se transportassem uma droga ilegal? E por que alguém se daria ao
trabalho de contrabandear cocaína
em besouros se se pode comprar
drogas legalmente por lá e, por isso,
não existe tráfico?
Porque, ao contrário do que se
pensa -e o lobby brasileiro pró-legalização nem sempre se lembra de
esclarecer-, não apenas a cocaína
mas a heroína, o ácido, as anfetaminas e outras drogas continuam ilegais na Holanda. É crime comprar,
vender e portar essas substâncias,
assim como rechear besouros inocentes com elas. Liberados são o haxixe, o skunk, a maconha e os cogumelos, mas só para maiores de 18
anos, em cafeterias longe de escolas, e há um limite de quantidade
para cada comprador.
Isso não impede que muitos emburaquem em toda espécie de droga, obrigando o Estado a se encarregar dos casos mais brabos de dependência. Se hoje quase não se vêem
jovens abestados no meio-fio e com
uma seringa pendente do braço, como nos anos 80, é porque a Holanda
cuida de sua saúde pública.
Esta é a diferença. A Holanda é
séria, rica e incorrupta. É também
menor que a ilha de Marajó. A própria Amsterdã é pouco maior que a
linda Jijoca de Jericoacoara, no
Ceará, e cabem três Amsterdãs em
Pindamonhangaba. Simples assim.
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