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CLÓVIS ROSSI
Projeto, busca-se
SÃO PAULO - Troque-se apenas a geografia, e vai-se encontrar no texto
do sociólogo Frank Furedi (Universidade de Kent) sobre as chamas de
Paris, publicado domingo por esta
Folha, um raio-X perfeito também
da crise brasileira, se alguém se animar a olhar além da lama nossa de
cada dia.
Escreveu Furedi: "Pela primeira vez
na era moderna, as elites políticas européias estão destituídas de projeto.
Elas não têm mais uma missão a
cumprir. Não têm uma visão definida que possa moldar sua políticas e
suas ações no cotidiano".
Vale à perfeição para o Brasil. Pode-se datar a inexistência de missão
a cumprir de acordo com o gosto ou
simpatia político-ideológica de cada
qual, mas negá-la seria bancar o
avestruz.
Na Europa, sempre segundo Furedi, a mais recente "missão" foi o processo de integração e construção da
União Européia, que ele minimiza
como mero "projeto gerencial elitista" incapaz de "inspirar a população", do que daria prova a rejeição
da Constituição européia nos plebiscitos na França e na Holanda.
Acho que é simplificar as causas do
"não", mas, para ficar apenas no paralelo com o Brasil, a "última missão" das elites foi acabar com a superinflação e privatizar as estatais.
Aplaudido ou vaiado, esse tipo de
missão é claramente insuficiente para compor um projeto de país.
Afinal, voltando a Furedi, não respondem às "questões fundamentais
impostas por nossos tempos: Qual é o
objetivo da política? Quem somos, como sociedade? O que define nossa
condição humana?".
Como a elite não tem respostas para essas perguntas e fica apenas numa torpe batalha para saber quem
delinqüe mais ou menos, são naturais a perplexidade e o desencanto
que permeiam as manifestações daqueles que esperam liderança e o
apontar de rumos.
A diferença: lá, queimam carros;
aqui, matam e morrem em batalhas
sem pena nem glória.
@ - crossi@uol.com.br
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