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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Abaixo de R$ 140
SÃO PAULO - Um tanque de gasolina. O preço de dois ou três livros.
Um jantar razoável para duas pessoas. Tudo isso pode custar R$ 140.
Pense no quanto você gastou nesses dias de feriado. Mais de 30 milhões de pessoas (15,5% da população) ainda vivem com menos de R$
140 por mês no Brasil. Há dez anos
eram 57 milhões de pessoas (33,3%
da população) nessa condição.
Seria o caso de comemorar e de
ter vergonha ao mesmo tempo. Dos
quase 31 milhões de miseráveis,
12,4 milhões ainda são considerados "indigentes". É como são chamados, tecnicamente, aqueles que
sobrevivem com renda mensal de
até R$ 70. Temos alguma ideia de
como é a vida dessas pessoas?
O problema, na verdade, é maior.
O próprio governo reconhece, na
reportagem publicada ontem pela
Folha, que R$ 140 mensais per capita (que define o teto da clientela
do Bolsa Família) é um valor ridiculamente baixo. A economista Lena Lavinas, da UFRJ, defende que a
definição de pobreza seja reconsiderada: quem vive com menos de
60% da renda familiar média per
capita (R$ 465), ou seja, com até R$
280 mensais. No momento em que
Dilma promete erradicar a miséria,
seria bom aproximar um pouco a
nomenclatura da realidade.
O governo Lula, no entanto, entre tantos erros e acertos, teve o
grande mérito histórico de dar visibilidade aos pobres, alargando a
percepção do país sobre si mesmo.
Lula fez com que os pobres se vissem como portadores de direitos
sociais e protagonistas da política.
A questão da miséria está colocada em novos termos no centro do
debate nacional -menos do que
poderia ter sido, para parte da esquerda; com os vícios do paternalismo e do clientelismo, para outros; de modo incômodo para uma
fração das classes médias e altas,
inconformadas com "esses nordestinos". As reações, muitas vezes
antagônicas ou regressivas, sinalizam que, apesar da pasmaceira da
política, algo se mexe na iníqua
paisagem social brasileira.
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