São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 2002

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GABRIELA WOLTHERS

Um lapso de três anos

RIO DE JANEIRO - "A Polícia Federal prendeu há uma semana, em Goiás, Leonardo Dias Mendonça, apontado como líder de uma organização que atuava no tráfico internacional de cocaína."
"A Polícia Federal prendeu ontem 22 pessoas acusadas de envolvimento em uma das maiores organizações criminosas do país, que atuava no tráfico internacional de drogas. Apontado pela PF como um dos principais chefes da quadrilha, o empresário Leonardo Dias Mendonça foi preso em Goiás."
Os textos acima trazem praticamente as mesmas informações. O personagem é o mesmo, o ato -de prisão- é o mesmo e até o local onde Mendonça foi preso é o mesmo. A diferença não está no conteúdo, mas na data em que eles foram publicados. O primeiro texto foi impresso na Folha no dia 28 de novembro de 1999. O segundo é da última terça-feira. Três anos os separam.
Pelo menos desde 99 Mendonça é considerado pela Polícia Federal um dos principais nomes do crime organizado no Brasil -do tráfico de drogas com conexões internacionais. O que aconteceu durante esse período além de Mendonça ter aumentado o seu poderio?
O enredo é de novela mexicana: Mendonça é preso em 1999, mas obtém a liberdade em outubro de 2000 por decisão do Superior Tribunal de Justiça. No mesmo mês, a Justiça de Mato Grosso decreta nova prisão. Em março de 2001, o Tribunal Regional Federal concede habeas corpus. Em outubro de 2001, a Justiça do Maranhão manda prendê-lo. Novo habeas corpus do Tribunal Regional Federal em janeiro deste ano. Em dezembro, a Justiça de Goiás decide que ele deve voltar à prisão.
A novidade entre a prisão de 99 e a última é que as investigações mostram agora indícios de envolvimento de membros do alto escalão do Judiciário com o traficante. O Judiciário mostra estar dividido -o mesmo poder manda prender e manda soltar. Resta esperar o capítulo final desse folhetim para saber quem vai ganhar essa guerra. A justiça já perdeu.


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