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FERNANDO RODRIGUES
Saldo das Arábias
BRASÍLIA - Já é possível fazer um balanço mais ponderado da viagem de
Lula a cinco países árabes, por nove
dias, levando consigo mais de 60 pessoas, muitos apaniguados.
1) Delegação - não foi Lula quem
inventou esses trens da alegria, mas
poderia ser ele o presidente a terminar com isso. Tinha médico particular, amigos de amigos, filha de amigo, congressistas que não estavam
nem aí para a programação.
O custo de levar essa turma toda
nem é muito grande. A hospedagem e
as refeições são pagas pelo país hospedeiro. O avião presidencial vai levantar vôo, vazio ou cheio. Não faz
diferença. Ainda assim, é impróprio
ter quase metade dos integrantes da
comitiva comportando-se como num
convescote em viagens oficiais.
2) Ditaduras - Lula esteve na Síria e
na Líbia. O objetivo era promover negócios. É um argumento de risco. Se
der em nada, o brasileiro terá na parede apenas as fotos ao lado de governantes sem apreço pela democracia
-inclusive o exótico Gaddafi, que
defende a Terceira Teoria Universal,
segundo a qual "democracia representativa é uma fraude" e os partidos
políticos seriam só uma forma de "ditadura contemporânea".
3) Causa árabe - o presidente apenas repetiu o que o Brasil diz há anos
dentro da ONU. É a favor da devolução das colinas de Golã para a Síria.
Quer um Estado palestino soberano.
Lula disse zero de novo e sempre
mencionou a necessidade de garantir
o Estado de Israel, mas o discurso
acabou descompensado a favor dos
árabes. Se era essa a intenção, deu
certo. Se não, falta calibragem.
4) Imagem do Brasil - por mais que
o Itamaraty e o Planalto digam não
desejar uma volta ao mesozóico movimento dos não-alinhados, a impressão que fica é exatamente essa,
com Gaddafi, Daniel Ortega e Ben
Bella sentados ao lado de Lula.
Tudo pode ser compensado por um
surto de alta nas vendas do Brasil ao
exterior. Mas essa é uma hipótese intangível, que só será confirmada
-ou não- com o passar do tempo.
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