UOL




São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FERNANDO RODRIGUES

Saldo das Arábias

BRASÍLIA - Já é possível fazer um balanço mais ponderado da viagem de Lula a cinco países árabes, por nove dias, levando consigo mais de 60 pessoas, muitos apaniguados.
1) Delegação - não foi Lula quem inventou esses trens da alegria, mas poderia ser ele o presidente a terminar com isso. Tinha médico particular, amigos de amigos, filha de amigo, congressistas que não estavam nem aí para a programação.
O custo de levar essa turma toda nem é muito grande. A hospedagem e as refeições são pagas pelo país hospedeiro. O avião presidencial vai levantar vôo, vazio ou cheio. Não faz diferença. Ainda assim, é impróprio ter quase metade dos integrantes da comitiva comportando-se como num convescote em viagens oficiais.
2) Ditaduras - Lula esteve na Síria e na Líbia. O objetivo era promover negócios. É um argumento de risco. Se der em nada, o brasileiro terá na parede apenas as fotos ao lado de governantes sem apreço pela democracia -inclusive o exótico Gaddafi, que defende a Terceira Teoria Universal, segundo a qual "democracia representativa é uma fraude" e os partidos políticos seriam só uma forma de "ditadura contemporânea".
3) Causa árabe - o presidente apenas repetiu o que o Brasil diz há anos dentro da ONU. É a favor da devolução das colinas de Golã para a Síria. Quer um Estado palestino soberano. Lula disse zero de novo e sempre mencionou a necessidade de garantir o Estado de Israel, mas o discurso acabou descompensado a favor dos árabes. Se era essa a intenção, deu certo. Se não, falta calibragem.
4) Imagem do Brasil - por mais que o Itamaraty e o Planalto digam não desejar uma volta ao mesozóico movimento dos não-alinhados, a impressão que fica é exatamente essa, com Gaddafi, Daniel Ortega e Ben Bella sentados ao lado de Lula.
Tudo pode ser compensado por um surto de alta nas vendas do Brasil ao exterior. Mas essa é uma hipótese intangível, que só será confirmada -ou não- com o passar do tempo.


Texto Anterior: São Paulo - Vinicius Torres Freire: A privatização do PT
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Radicais não-livres
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.