São Paulo, quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

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FORA DO FMI

A quitação antecipada da dívida brasileira com o FMI deverá gerar ganhos financeiros e políticos para o governo. Além da economia de US$ 900 milhões, que seriam gastos com juros, o Brasil lança um sinal positivo para os mercados e para as agências de avaliação de risco.
A equipe econômica pode apresentar a decisão como prova do acerto de suas políticas -o que não é- e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em sua obsessão de medir-se com Fernando Henrique Cardoso, estará à vontade para dizer que, enfim, livrou o país do FMI, depois de três acordos firmados com a instituição por seu antecessor.
É legítimo e faz parte do jogo que o governo ressalte seus méritos e procure ganhar dividendos políticos, mas as circunstâncias que favoreceram a liqüidação do empréstimo são fruto de processos que transcendem a atuação da equipe econômica.
A antecipação do pagamento se inscreve no contexto de um forte ajuste das contas externas brasileiras, que teve início com a desvalorização do real ainda no governo anterior. O câmbio mais favorável, aliado ao impressionante desempenho do comércio mundial, puxado especialmente pela China e pelos Estados Unidos, permitiu à economia brasileira -que reage rapidamente a estímulos- sair de uma situação externa precária para gerar elevados saldos na balança comercial.
Outro aspecto importante é a combinação da farta disponibilidade de recursos internacionais para investimentos financeiros com as taxas de juros elevadíssimas oferecidas pelo Brasil. As apostas especulativas aumentam a oferta de moeda estrangeira e ajudam a pressionar para baixo a cotação do dólar.
Nesse quadro, o BC compra divisas no mercado, aumenta suas reservas e aproveita a oportunidade para encerrar os compromissos com o FMI. É uma decisão positiva, mas não ao ponto de transformar em virtude o que, no essencial, é vício -ou seja, a política de juros altos e câmbio valorizado que prejudica o setor produtivo e o crescimento econômico.


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