São Paulo, quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

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CLÓVIS ROSSI

Não é um negócio da China, não

HONG KONG - Sei que não é a mais científica das avaliações, mas às vezes o cotidiano banal, banalíssimo, oferece informações para avaliar a vida das pessoas tanto quanto as grandes estatísticas.
A primeira coisa que me chamou a atenção ao chegar a Hong Kong, hoje Região Administrativa Especial da China ex-comunista, foi o fato de que a lavanderia do hotel funciona todos os dias da semana. Na Europa e nos Estados Unidos, em geral lavanderias de hotéis trabalham de segunda a sexta, no máximo, sábados.
Depois, descobri que trabalhar sete dias por sete dias é bastante habitual por aqui. Como aliás é, no Brasil, o sonho de muitos dos que listam o descanso remunerado como "encargo social", não como direito básico.
Bom, aí trombo com folheto da Ciosl (Confederação Internacional de Organizações Sindicais Livres, sendo que o "livres" entrou porque era a central que se opunha ao comunismo nos tempos da guerra fria).
Faz um balanço, pela ótica do trabalho, do milagre chinês, que deslumbra (e assusta) o mundo.
Confirma a primeira e banal observação decorrente do funcionamento da lavanderia.
"Aqueles que fabricam ampla gama de produtos para consumidores do mundo inteiro (de t-shirts a leitores de DVD) enfrentam semanas de 60 a 70 horas, vivem em cubículos nos quais coabitam de 8 a 16 pessoas, ganham menos que o salário mínimo de US$ 44 por mês [um terço do salário mínimo merreca do brasileiro] e têm só o desemprego como perspectiva em caso de acidente do trabalho, possibilidade infelizmente freqüente pelo fato de que poucas empresas respeitam as exigências mínimas em termos de segurança."
Há muitos outros dados de teor parecido, mas o espaço está acabando e é preciso ressalvar que o milagre chinês provocou substancial redução da pobreza. Ainda assim, eu não compraria o modelo porteira fechada, não, senhor. E você?

@ - crossi@uol.com.br


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