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CLÓVIS ROSSI
Não é um negócio da China, não
HONG KONG - Sei que não é a mais científica das avaliações, mas às vezes o cotidiano banal, banalíssimo,
oferece informações para avaliar a
vida das pessoas tanto quanto as
grandes estatísticas.
A primeira coisa que me chamou a
atenção ao chegar a Hong Kong, hoje
Região Administrativa Especial da
China ex-comunista, foi o fato de que
a lavanderia do hotel funciona todos
os dias da semana. Na Europa e nos
Estados Unidos, em geral lavanderias de hotéis trabalham de segunda
a sexta, no máximo, sábados.
Depois, descobri que trabalhar sete
dias por sete dias é bastante habitual
por aqui. Como aliás é, no Brasil, o
sonho de muitos dos que listam o descanso remunerado como "encargo
social", não como direito básico.
Bom, aí trombo com folheto da
Ciosl (Confederação Internacional
de Organizações Sindicais Livres,
sendo que o "livres" entrou porque
era a central que se opunha ao comunismo nos tempos da guerra fria).
Faz um balanço, pela ótica do trabalho, do milagre chinês, que deslumbra (e assusta) o mundo.
Confirma a primeira e banal observação decorrente do funcionamento
da lavanderia.
"Aqueles que fabricam ampla gama de produtos para consumidores
do mundo inteiro (de t-shirts a leitores de DVD) enfrentam semanas de
60 a 70 horas, vivem em cubículos nos
quais coabitam de 8 a 16 pessoas, ganham menos que o salário mínimo
de US$ 44 por mês [um terço do salário mínimo merreca do brasileiro] e
têm só o desemprego como perspectiva em caso de acidente do trabalho,
possibilidade infelizmente freqüente
pelo fato de que poucas empresas respeitam as exigências mínimas em
termos de segurança."
Há muitos outros dados de teor parecido, mas o espaço está acabando e
é preciso ressalvar que o milagre chinês provocou substancial redução da
pobreza. Ainda assim, eu não compraria o modelo porteira fechada,
não, senhor. E você?
@ - crossi@uol.com.br
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