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CARLOS HEITOR CONY
Mandatos elásticos
RIO DE JANEIRO - José Serra, um dos presidenciáveis do PSDB, manifestou-se contra a reeleição e a favor do
mandato de cinco anos. Espantoso
como o interesse pessoal muda a cabeça dos políticos. Na Constituição
de 88, foram fixados quatro anos para os períodos presidenciais.
Pouco, sem dúvida. Mas o partido
tucano estava afobado, queria chegar logo ao poder, liderou na Constituinte o mandato de quatro anos para ficar livre de Sarney, que fora diplomado pela Justiça Eleitoral para
um período de seis. Nas mesmas bases dos constituintes que reduziram o
seu mandato constitucional, Sarney
conseguiu mais um ano.
Collor não teve tempo para cavilar
um mandato maior. FHC, que na
constituinte foi o mais espalhafatoso
defensor dos quatro anos, uma vez
eleito para o período estabelecido pela Constituição, na qual ele mesmo
votou, tratou de descolar a reeleição
comprando votos com um descaramento diante do qual os atuais escândalos parecem obra de amadores.
Com a lambança do PT no poder,
as chances do PSDB voltam a ser fortes, mas o fantasma da reeleição de
Lula tira o sono dos presidenciáveis
do partido. É hora então de acabar
com a reeleição e restaurar o mandato de cinco anos, para usufruto de
Serra ou do tucano da vez.
O PT tentou se marcar como o partido da ética: deu no que está dando.
O PSDB sempre se vendeu como o
partido do direito, da lei, da coerência política. Mas quando se trata de
obter vantagens pessoais ou partidárias, adota um direito elástico: para
os outros, um mandato menor; para
eles, reeleição ou um ano a mais.
Admiro José Serra. Foi um bom ministro da Saúde, tem espírito público,
não sei se está sendo bom ou mau
prefeito em São Paulo. Mandato presidencial de cinco anos, em si, faz o
presidencialismo voltar ao leito natural e bastante. JK teve só cinco para
realizar um trabalho de 50 anos.
Mas esticar ou diminuir mandatos
em interesse próprio ou partidário só
merece um nome: sacanagem.
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