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ELIANE CANTANHÊDE
Nem os líderes lideram
BRASÍLIA - Nos quatro anos do
primeiro mandato, Lula foi ao Fórum Econômico Mundial e ao Fórum Social Mundial duas vezes, em 2003 e em 2005. E não foi duas, em
2004 e em 2006. A lógica era: se vai
num, vai no outro; se não vai num,
não vai em nenhum.
Essa lógica está sendo rompida
no segundo mandato, e Lula simplesmente assume a sua preferência. Pela primeira vez ele vai ao Fórum Econômico, em Davos, e não
vai ao Fórum Social, em Nairóbi.
Lula deve ter concluído que é melhor confraternizar com os líderes
desenvolvidos e ser paparicado a
suportar o eclético mundo de
ONGs, movimentos, independentes, desgostosos e utópicos dos fóruns sociais -e ainda ser vaiado.
Lula vai a Davos em 27 e 28, dias
depois da pesquisa "Voice of the
People" [Voz do Povo], do Gallup
Internacional, com 55 mil pessoas
de 60 países, mostrando a falta de
confiança nos líderes, especialmente nos políticos. Um alerta.
O Brasil não foi incluído entre os
países pesquisados neste ano, mas
os resultados da América Latina
acendem um sinal amarelo e explicam muita coisa: 90% na Bolívia,
89% no Peru e no Equador e 80% na
Venezuela acham que os líderes políticos são desonestos.
Foi por essas e por outras que
Hugo Chávez chegou ao governo da
Venezuela, Evo Morales foi eleito
na Bolívia e Rafael Correa acaba de
tomar posse no Equador. O dado
estranho é em relação a Chávez,
que assumiu lá se vão oito anos e
ainda convive com um índice altíssimo de desconfiança dos venezuelanos em relação aos seus líderes.
Como o discurso chavista é radical contra "a corrupção dos neoliberais e dos políticos tradicionais",
provavelmente o povo venezuelano
não o identifica como político, mas
algo além, talvez um salvador da pátria. Políticos são os outros.
Em tempo: quem vai ao Fórum
Social no lugar de Lula é o doce ministro Luiz Dulci. Agora vai!
elianec@uol.com.br
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