São Paulo, terça-feira, 16 de janeiro de 2007

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ELIANE CANTANHÊDE

Nem os líderes lideram

BRASÍLIA - Nos quatro anos do primeiro mandato, Lula foi ao Fórum Econômico Mundial e ao Fórum Social Mundial duas vezes, em 2003 e em 2005. E não foi duas, em 2004 e em 2006. A lógica era: se vai num, vai no outro; se não vai num, não vai em nenhum.
Essa lógica está sendo rompida no segundo mandato, e Lula simplesmente assume a sua preferência. Pela primeira vez ele vai ao Fórum Econômico, em Davos, e não vai ao Fórum Social, em Nairóbi.
Lula deve ter concluído que é melhor confraternizar com os líderes desenvolvidos e ser paparicado a suportar o eclético mundo de ONGs, movimentos, independentes, desgostosos e utópicos dos fóruns sociais -e ainda ser vaiado.
Lula vai a Davos em 27 e 28, dias depois da pesquisa "Voice of the People" [Voz do Povo], do Gallup Internacional, com 55 mil pessoas de 60 países, mostrando a falta de confiança nos líderes, especialmente nos políticos. Um alerta.
O Brasil não foi incluído entre os países pesquisados neste ano, mas os resultados da América Latina acendem um sinal amarelo e explicam muita coisa: 90% na Bolívia, 89% no Peru e no Equador e 80% na Venezuela acham que os líderes políticos são desonestos.
Foi por essas e por outras que Hugo Chávez chegou ao governo da Venezuela, Evo Morales foi eleito na Bolívia e Rafael Correa acaba de tomar posse no Equador. O dado estranho é em relação a Chávez, que assumiu lá se vão oito anos e ainda convive com um índice altíssimo de desconfiança dos venezuelanos em relação aos seus líderes.
Como o discurso chavista é radical contra "a corrupção dos neoliberais e dos políticos tradicionais", provavelmente o povo venezuelano não o identifica como político, mas algo além, talvez um salvador da pátria. Políticos são os outros.
Em tempo: quem vai ao Fórum Social no lugar de Lula é o doce ministro Luiz Dulci. Agora vai!

elianec@uol.com.br


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