|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Terrorismo de Estado
SÃO PAULO - Em meio ao trágico
noticiário do Oriente Médio e à
pantomima diplomática do governo brasileiro em torno do conflito
entre Israel e Hamas, surgem algumas notícias de nossa guerra particular. A ONG Human Rights
Watch, reiterando o óbvio, em seu
relatório anual sobre a violação dos
direitos humanos, classificou a violência policial no país como um
"problema crônico".
O texto se apoia em estatísticas
do Rio de Janeiro e de Pernambuco,
onde a situação é alarmante -o que
não significa, é claro, que em outros
Estados, como São Paulo ou Minas,
o panorama seja muito melhor. No
Rio, nos primeiros seis meses do
ano passado, a polícia foi responsável por aproximadamente 1 em cada 5 homicídios registrados. Em
Pernambuco, estima-se que 70%
deles sejam obra de esquadrões da
morte com a suposta participação
de agentes policiais.
Em artigo publicado na edição
brasileira do "Le Monde Diplomatique", Luiz Eduardo Soares, coautor
de "Elite da Tropa" e ex-secretário
nacional de Segurança Pública,
menciona pesquisa segundo a qual
65% das 1.195 pessoas mortas pela
polícia no Estado do Rio em 2003,
em situações descritas como "autos
de resistência", apresentavam sinais insofismáveis de execução. É
difícil acreditar que essa rotina seja
exclusividade fluminense e que tenha mudado para melhor nos últimos anos. Em 2007, apenas a polícia do Rio matou 1.330 pessoas. Em
2008, o número deve estar em torno de 1.500.
Assassinato sumário por parte de
agentes públicos. Sem acusação,
sem julgamento, sem prestação de
contas. Será que algo assim poderia
ser descrito pelo governo brasileiro
como "terrorismo de Estado"? Para
alguns moradores de nossas favelas, que sobrevivem num ambiente
de guerra e de total insegurança, no
meio do fogo cruzado, certamente
sim. Mas, para a classe média assustada, talvez essas mortes se pareçam mais com direito à autodefesa.
Texto Anterior: Editoriais: Nova aposta chavista
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Como em Gaza, mas resistindo Índice
|