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São Paulo, domingo, 16 de março de 2003

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A AMÉRICA E O MUNDO

O governo norte-americano está, com razão, preocupado com o aumento do sentimento anti-Estados Unidos no mundo. Reportagem publicada no jornal "The Washington Post" revelou que embaixadas norte-americanas em todo o planeta estão enviando relatórios ao Departamento de Estado em que alertam para esse crescimento.
O fenômeno é real e tem sua origem na posição belicosa que a Casa Branca vem assumindo em relação ao Iraque. Não se trata necessariamente de um antiamericanismo inconsequente, que rejeite tudo o que vem dos Estados Unidos. É mais adequado falar em sentimento de oposição à atual política externa dos EUA. E vale notar que um contingente não-desprezível dos próprios norte-americanos partilha dessa percepção e também faz duras críticas ao governo de seu país.
Só isso já bastaria para enfraquecer a simpatia mundial aos EUA diante do Iraque, mas é preciso recordar que existem ainda vários outros ingredientes a dificultar o marketing de George W. Bush.
Há, em primeiro lugar, a sensação generalizada de que a guerra, no caso, é injusta. A maior parte da opinião pública mundial está certa de que, muito mais do que a segurança global, os reais motivos para o conflito são o petróleo iraquiano e o desejo da Casa Branca de exercer sua hegemonia militar, para não mencionar o ódio pessoal de Bush pelo ditador iraquiano Saddam Hussein.
Mas não é só. O próprio histórico unilateralista de George W. Bush, o homem que rejeitou o Protocolo de Kyoto (acordo internacional para tentar o controlar as consequências do efeito estufa), o torna uma figura antipática mundo afora, principalmente para os setores com posições políticas mais à esquerda.
Seja como for, o aumento do antiamericanismo é um fator com o qual o governo dos EUA e seu corpo diplomático terão de lidar. Na maioria dos países, esse deverá ser um fenômeno passageiro, que refluirá tão logo a crise iraquiana esteja resolvida. Em algumas outras nações, contudo, a sensação de que Washington exerce um imperialismo que precisa ser combatido poderá ajudar a criar os terroristas de amanhã. Esse é um dos grandes riscos da intransigência de George W. Bush.


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