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CLÓVIS ROSSI
A barbárie
SÃO PAULO- Os âncoras de radiojornais e telejornais locais parecem
estar treinando para a Olimpíada
de Pequim: vira e mexe, anunciam
novos recordes. Pena que estejam
falando de algo que está à minha, à
sua, à nossa frente, qual seja, um
novo recorde de congestionamento
em São Paulo.
Não faz tanto tempo assim, antes
de sair da Folha batia os olhos nos
on-line sobre trânsito e via a informação de cem ou pouco mais quilômetros de congestionamento. Já
era o inferno até em casa, a escassos dez quilômetros.
Agora, os recordes não deixam
por menos: são de 200 quilômetros
para cima.
É o "progresso", segundo a filosofia malufo-manteguiana. Acho que
está mais para fim da civilização do
que para progresso, no discutível
pressuposto de que, em algum momento, floresceu uma civilização
nos campos de Piratininga.
As fotos de anteontem na capa
desta Folha, de um menino no carro e de um jovem dormindo apoiado no vidro do ônibus, carro e ônibus parados no trânsito, contam toda uma história de prisioneiros do
tal "progresso".
A inacreditável quantidade de
motos que circulam por São Paulo
conta mais um pedaço dessa triste
história. Não há nada, nada, nada,
parecido em outras metrópoles do
mundo, pelo menos nas que conheço. Nada contra as motos, se fossem
meio de transporte de livre escolha.
Não são. São impostas pelo "progresso", para que mercadorias e
pessoas consigam, com sorte, muita sorte, chegar ao destino, nem
sempre inteiras. De carro/ônibus/
caminhão, ficariam prisioneiras do
caos.
Menos mal que o prefeito Gilberto Kassab vai proibir o estacionamento e o trânsito de caminhões de
carga e descarga entre 5h30 e 7h30.
Que medida revolucionária, ousada. Seria a volta da civilização, não
fosse o detalhe de que, nesse horário, não há recordes a cantar.
crossi@uol.com.br
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