São Paulo, domingo, 16 de março de 2008

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ELIANE CANTANHÊDE

Aos EUA, de véspera

BRASÍLIA - Colômbia e Equador e Venezuela selaram a paz, mas os EUA não querem desperdiçar essa chance de ouro para discutir uma idéia fixa: o terrorismo. O que botou fogo na região foi a violação do Equador, ação considerada indesculpável sob qualquer pretexto (inclusive contra as Farc). E os EUA querem justamente a "relativização" do princípio internacional da não-violação territorial.
Em outras palavras: Brasil, Argentina, Chile e Venezuela, entre outros, condenam incondicionalmente invasões de países, mas os EUA querem liberdade para uma invasãozinha de vez em quando contra "terroristas" -como classificam as Farc, pivôs da crise.
A questão estará no centro da reunião de chanceleres da OEA (Organização dos Estados Americanos), amanhã, em Washington. O Brasil e seus parceiros trabalham para que os EUA repitam a postura da reunião anterior e se coloquem diplomaticamente à margem, para a OEA "latinoamericanizar" os debates e a resolução final.
A comissão de países que investiga o bombardeio colombiano no Equador fará um relato do que apurou e apresentará propostas que estão sendo intensamente negociadas neste final de semana. A expectativa é ratificar a não-violação territorial, mas com condenação de atos terroristas e sugestões para proteger as porosas fronteiras da região.
Sem esquecer, claro, da retomada das "ações humanitárias" para livrar os reféns das Farc.
Os EUA querem aniquilar as Farc, pura e simplesmente. E, se recorreram a duas fraudes -armas de destruição em massa e ligação de Saddam Hussein com a Al Qaeda- para invadir o Iraque, não dão a menor bola para o princípio basilar da inviolabilidade territorial.
Pois saibam, de véspera, que essa posição será prontamente rechaçada, com o risco de a grande potência ficar ilhada no consenso regional.
Tremenda novidade.

eliane@uol.com.br


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