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CARLOS HEITOR CONY
O nome deles é Legião
RIO DE JANEIRO - No meu tempo, dizia Machado de Assis, já havia
velhos, mas poucos. Parodiando o
mestre, direi que, no meu tempo, já
existiam chatos, mas relativamente
poucos. E não eram tão espalhafatosos e onipresentes. Quando Cristo expulsou Satanás de um endemoniado, perguntou-lhe o nome.
Satanás respondeu: "Meu nome é
Legião". Os chatos de agora são
também uma legião, a internet ampliou-os em número, freqüência e
virulência.
Todos os meus amigos -e até
mesmo alguns que não chegam a isso- reclamam das mensagens, das
sugestões e, sobretudo, das denúncias do interesse de cada um. Do
prefeito que não asfaltou a rua, do
emprego que alguém não obteve, do
concurso que o reprovou.
O e-mail, que deu oportunidade à
comunicação de forma surpreendente, se, de um lado, está servindo
na busca e na troca de informações
para aproximar pessoas, de outro,
está produzindo chatos em massa,
em escala industrial.
Desocupados, embriões de gênios que desejariam ser comentaristas de política, de esportes, de
economia e de cultura, ditando regras disso ou daquilo, encontraram
afinal a tribuna, o miniespaço que
buscavam e não conseguiam.
Entram na internet com tempo e
garra suficientes para tentar criar
um mundo à sua imagem e semelhança, mundo que felizmente não
existe, a não ser na cabeça desses
novos Petrônios informatizados.
E, ao contrário de Deus, que
quando criou todas as coisas, o céu e
a Terra, o Sol e as estrelas, descansou no sétimo dia, o chato eletrônico não descansa, trabalha em tempo integral, todos os dias, sábados,
domingos e feriados, não tira férias,
não adoece. E como ninguém toma
as providências que ele reclama, o
chato adota um moralismo pedestre, primário, tentando mudar o
mundo que insiste em rejeitá-lo.
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