São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2004

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Acordes pela paz mundial

HENRY SOBEL

Em homenagem aos 450 anos da metrópole paulistana, a Congregação Israelita Paulista realizará na Sala São Paulo, neste domingo, dia 18, um concerto da Orquestra Juvenil da União Européia (European Union Youth Orchestra, Euyo), sob a regência do maestro e pianista Vladimir Ashkenazy.
Nascido na Rússia em 1937, Vladimir Ashkenazy conquistou renome internacional como grande virtuose devido ao seu nível de perfeição técnica e à dimensão poética de sua interpretação. A partir da década de 70, passou a atuar também como regente, sendo igualmente aclamado na função tanto pelo público, quanto pela crítica. Foi diretor musical da Royal Philharmonic Orchestra, de Londres, e maestro convidado de algumas das melhores orquestras do mundo, inclusive a Concertgebouw, de Amsterdã, e a Filarmônica de Berlim.
A Euyo foi criada em 1978 e tem se apresentado em inúmeras cidades do mundo inteiro. Seus 140 integrantes, com idades entre 17 e 23 anos, são provenientes de 15 países europeus. Reunindo talento, profissionalismo, experiência e empenho, constróem uma obra que, além de deleitar platéias, constitui uma verdadeira ode à união entre os povos.
Além de sua indiscutível importância cultural, o evento que ora realizamos se coaduna perfeitamente com a ideologia da CIP. Somos uma congregação judaica liberal -a maior da América Latina- e temos como missão transmitir os ensinamentos éticos do judaísmo e os valores morais comuns a toda a humanidade. Professamos um judaísmo progressista e pluralista. Procuramos fortalecer em nossos jovens e adultos o apego ao seu próprio credo e o respeito aos credos alheios. Apoiamos as manifestações pelos direitos humanos de toda e qualquer minoria e nos empenhamos em semear a tolerância como virtude essencial para a paz entre os povos.


O que se faz necessário em nossa sociedade é um espírito de valorização das diferenças e reverência pela diversidade

A música, linguagem sem fronteiras, tem o poder de unificar a humanidade, superando barreiras de idiomas, de nacionalidades, de raças e de religiões. Em uma época como a nossa, em que tantos são vistos como inimigos, muitas vezes pelo único motivo de serem diferentes, queremos ressaltar que as diferenças não impedem a união. É perfeitamente possível pessoas das mais diversas origens e crenças unirem-se em prol de um objetivo comum.
O erro mais trágico e persistente do pensamento humano é o conceito de que as idéias são mutuamente exclusivas. Foi esse o engano fatal que, não apenas em nosso século, mas em todos os tempos, fez falhar o ideal da fraternidade universal. Em cada indivíduo, em cada povo, em cada cultura existe algo que é relevante para os demais, por mais diferentes que sejam entre si. Enquanto cada grupo pretender ser o dono exclusivo da verdade, enquanto perdurar essa estreiteza de visão, a paz mundial permanecerá um sonho inatingível.
O ingrediente básico para a construção da paz em nossa sociedade é a humildade. Um pouquinho de humildade já é bastante para que se reconheça que a verdade não é monopólio da nossa própria linha religiosa ou política. Mesmo que um grupo conseguisse impor seus valores ao restante da humanidade, e na remota possibilidade de que o fizesse sem violência, o resultado seria uma sociedade empobrecida, monótona, uníssona. Seria como uma orquestra em que, visando uma maior unidade, o regente obrigasse todos os músicos a emitirem o mesmo som. Talvez no princípio parecesse que se tivesse alcançado uma verdadeira harmonia, porém logo se perceberia que a uniformidade acabara por prejudicar toda a orquestra. Perde-se a riqueza de timbres, as variações de sonoridade, o diálogo entre instrumentos.
O que se faz necessário em nossa sociedade é um espírito de valorização das diferenças e reverência pela diversidade. São somente essa reverência e esse profundo respeito mútuo que podem conduzir-nos à paz. Essa é nossa visão de mundo. Essa é nossa esperança para o futuro da família humana.

Henry Isaac Sobel, 60, rabino, é presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista.


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