São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2004 |
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Acordes pela paz mundial
HENRY SOBEL
A música, linguagem sem fronteiras, tem o poder de unificar a humanidade, superando barreiras de idiomas, de nacionalidades, de raças e de religiões. Em uma época como a nossa, em que tantos são vistos como inimigos, muitas vezes pelo único motivo de serem diferentes, queremos ressaltar que as diferenças não impedem a união. É perfeitamente possível pessoas das mais diversas origens e crenças unirem-se em prol de um objetivo comum. O erro mais trágico e persistente do pensamento humano é o conceito de que as idéias são mutuamente exclusivas. Foi esse o engano fatal que, não apenas em nosso século, mas em todos os tempos, fez falhar o ideal da fraternidade universal. Em cada indivíduo, em cada povo, em cada cultura existe algo que é relevante para os demais, por mais diferentes que sejam entre si. Enquanto cada grupo pretender ser o dono exclusivo da verdade, enquanto perdurar essa estreiteza de visão, a paz mundial permanecerá um sonho inatingível. O ingrediente básico para a construção da paz em nossa sociedade é a humildade. Um pouquinho de humildade já é bastante para que se reconheça que a verdade não é monopólio da nossa própria linha religiosa ou política. Mesmo que um grupo conseguisse impor seus valores ao restante da humanidade, e na remota possibilidade de que o fizesse sem violência, o resultado seria uma sociedade empobrecida, monótona, uníssona. Seria como uma orquestra em que, visando uma maior unidade, o regente obrigasse todos os músicos a emitirem o mesmo som. Talvez no princípio parecesse que se tivesse alcançado uma verdadeira harmonia, porém logo se perceberia que a uniformidade acabara por prejudicar toda a orquestra. Perde-se a riqueza de timbres, as variações de sonoridade, o diálogo entre instrumentos. O que se faz necessário em nossa sociedade é um espírito de valorização das diferenças e reverência pela diversidade. São somente essa reverência e esse profundo respeito mútuo que podem conduzir-nos à paz. Essa é nossa visão de mundo. Essa é nossa esperança para o futuro da família humana. Henry Isaac Sobel, 60, rabino, é presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Luiz Gushiken: Conflito de egos ou choque de idéias? Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
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