São Paulo, terça-feira, 16 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NAÇÃO SEM SIGILO

No que certamente é a maior violação de sigilo da história, o governo norte-americano teve acesso aos registros telefônicos de dezenas de milhões de cidadãos. A notícia, divulgada pelo jornal "USA Today", marca mais um golpe da Casa Branca contra as liberdades individuais após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.
O programa de rastreamento telefônico estava a cargo da Agência de Segurança Nacional (NSA). Dele participaram, voluntariamente, três das maiores empresas de telecomunicações do país -AT&T, Verizon e BellSouth-, que entregaram às autoridades os registros de seus clientes. O objetivo da NSA era cruzar os dados e, a partir da análise das ligações, detectar padrões que pudessem levar a organizações criminosas.
O governo insiste em que agiu dentro da lei, mas a legislação norte-americana, como a brasileira, protege o sigilo dos registros telefônicos. Para operar com dados que permitam identificar cidadãos, a NSA precisaria de uma autorização judicial ou ao menos uma "probable cause", isto é, uma suspeita fundamentada. E não é razoável supor que o governo tenha razões críveis para desconfiar de todos os clientes de três das maiores empresas telefônicas do país.
O mais inquietante em toda essa história é que pesquisas revelam que 63% dos norte-americanos apóiam a bisbilhotice oficial. Mais uma vez, admitem abrir mão de direitos em troca da promessa de segurança. Cada um é livre para pensar como bem entende, mas vale a pena rememorar uma frase de Benjamin Franklin, um dos patronos dos EUA: "Quem joga fora a liberdade essencial para obter uma pequena segurança não merece nem liberdade nem segurança".


Texto Anterior: Editoriais: CERTA VOLATILIDADE
Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: A praça não é nossa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.