São Paulo, terça-feira, 16 de maio de 2006

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VALDO CRUZ

A vida ou o voto

BRASÍLIA - Enquanto a violência e o terror se espalhavam por São Paulo, fazendo crescer rapidamente o número de vítimas da guerra deflagrada pelo PCC, os nossos políticos trocavam acusações sobre a responsabilidade pelo clima de guerra reinante no Estado mais rico do país.
Petistas diziam que segurança pública é tarefa do Estado, que os tucanos governaram São Paulo nos últimos 12 anos e não conseguiram reduzir a criminalidade.
Tucanos acusavam o governo Lula de menosprezar o tema segurança pública, de reduzir as verbas destinadas ao setor e ainda de tentar usar o caos politicamente. Tudo isso era ouvido nos corredores do Congresso.
Posso estar enganado, mas, no momento, a menor preocupação dos paulistas é saber de quem é a culpa pelas mais de 80 mortes, motins em presídios, ônibus queimados, bancos incendiados, terror completo.
O paulista quer saber é como vai chegar ao trabalho, se vai enfrentar algum tiroteio pelo caminho, como ficará a segurança de seus familiares. E, principalmente, como será o amanhã. Que é hoje mesmo.
Daí que se torna um espetáculo deprimente, para dizer o mínimo, o tiroteio travado entre tucanos, pefelistas e petistas no auge do caos.
O eleitor aterrorizado deve estar se perguntando: por que aproveitar a fragilidade de tucanos e pefelistas para alfinetá-los enquanto a guerra só aumenta nas ruas? Por que recusar a oferta de ajuda do governo petista se ela pode representar um pouco mais de segurança?
Tudo bem, estamos em ano eleitoral, a campanha será uma das mais agressivas dos últimos anos. Mas, antes de se acusarem mutuamente, PT e PSDB deveriam refletir sobre algo: o que vale mais, milhares de votos ou a vida de dezenas de eleitores?
Ao final do dia, o bom senso tendia a prevalecer. Governo federal e Estado reuniram-se e trocaram palavras de apoio. Um ofereceu ajuda, o outro agradeceu, mas disse que não precisava. Tomara que esteja certo e poupe mais vidas.


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