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CARLOS HEITOR CONY
Bagdá é aqui
RIO DE JANEIRO - Pior do que o noticiário são as imagens da violência
que explodiu em São Paulo e se estendeu, em escala menor, por outras cidades brasileiras, estarrecendo a população civil diante da bandidagem,
que, além de organizada, é centralizada: bandos rivais se unem para
atacar o Estado.
Ao contrário de Bagdá, os ataques
não são motivados por uma ocupação estrangeira, seqüela de uma
guerra absurda e imoral. No conflito
entre israelenses e árabes, a violência
é decorrência de uma guerra não-declarada. Os exemplos não podem ser
aplicados ao que acontece na capital
paulista. É a falência da ordem diante do crime. Um pretexto bobo -a
transferência de presos de um presídio para outro- tomou proporções
inacreditáveis de uma guerra civil.
Contar os mortos e feridos é uma
providência inútil que as autoridades
exibem como trabalho. Uma operação como a do PCC teria de ser detectada pelos serviços de inteligência das
polícias Civil e Militar. Se houve surpresa, foi a da cidade inteira, do país
inteiro. O núcleo da violência continua intacto, os chefes já estão presos,
mas continuam comandando suas
quadrilhas, formadas por gente que
não tem nada a perder, presos foragidos ou indultados, que não podem
nem querem ser absorvidos pela sociedade, preferindo continuar no crime. Entre mortos e feridos, nem todos
salvam. Mas a maioria sobrevive e
ganha motivo maior para afrontar
polícia, Estado e povo.
Nem adianta procurar culpados. A
origem da violência, primeiramente
banalizada e, em seguida, organizada e centralizada, situa-se no problema carcerário e na falta de preparo
técnico dos responsáveis pelo setor.
Basta lembrar que se gastou mais na
campanha pelo desarmamento, que
antecedeu o último plebiscito nacional, do que nas prisões, penitenciárias e sistema policial como um todo.
O trágico episódio que São Paulo
está vivendo, mais cedo ou mais tarde será repetido no Rio, apesar das
facções do tráfico e das armas até
agora estarem longe de uma centralização. Eles chegarão lá.
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