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CLÓVIS ROSSI
Democracia e pobreza
LIMA - Democracia pode ter todos
os defeitos que se queira e pode não
estar tendo todo o afeto que deveria
merecer na América Latina, conforme demonstram algumas pesquisas. Mas ela é a principal responsável pelo fato de ter entrado para
ficar na agenda pública a questão do
combate à pobreza, uma ferida
aberta no subcontinente.
Quando digo "entrar" é para valer, porque, retoricamente, sempre
figurou. Como diz Susana Pinilla,
ministra peruana da Mulher e do
Desenvolvimento Social, "a governabilidade do século 21 depende da
eficiência da democracia em diminuir a pobreza e a exclusão".
Tem razão, com um matiz: em alguns países, é maior que em outros
a percepção de que ambas estão diminuindo, do que decorre que alguns governantes tenham teor de
aprovação superior ao de outros.
Talvez porque algumas sociedades tenham o que Pinilla chama de
"inflação de expectativas" em relação a seus governantes, o que, segundo ela, ajuda a explicar a impopularidade de seu chefe, o presidente Alan García.
De todo modo, o programa peruano de combate à pobreza está
introduzindo um elemento que deveria merecer a atenção das autoridades brasileiras. O Peru também
tem o seu Bolsa Família. Chama-se
"Juntos". Com a explosão dos preços de alimentos, o governo substituiu as doações em dinheiro pela
entrega de bolsas alimentícias, que
dão para atender "um mês de necessidades básicas das famílias
mais pobres", diz a ministra.
Sempre segundo ela, 80% da inflação é importada, na forma, por
exemplo, de petróleo, trigo e milho.
"Se continuássemos a dar dinheiro,
continuaria também o consumo de
importados e, portanto, se estaria
estimulando a inflação", diz. A doação de alimentos permite montar
uma bolsa mais adequada à produção local. Cem mil famílias limenhas estão sendo atendidas.
Vale para o Brasil?
crossi@uol.com.br
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