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Obama na prática
APÓS retumbante início de
governo, com medidas de
impacto simbólico no sentido de reparar danos aos direitos civis produzidos na administração Bush, Barack Obama começa a recuar. Ontem a Casa
Branca confirmou que serão retomados os polêmicos julgamentos de acusados por práticas terroristas em cortes militares.
Esses processos secretos, altamente favoráveis à acusação, foram um dos alvos prediletos do
democrata durante a campanha
eleitoral do ano passado. Na época, Obama costumava qualificar
a experiência das cortes militares como "fracasso enorme".
Também afirmava que a manutenção desses tribunais era uma
afronta aos valores americanos.
O clima de mudança foi reforçado na posse. No primeiro dia
de trabalho, o novo presidente
ordenou que todos os julgamentos militares fossem suspensos
por 120 dias. Com o prazo prestes a expirar, Obama produziu
uma guinada não só no discurso,
mas também na prática.
Cortes militares, desde que
acrescidas de algumas prerrogativas para ampliar a presença de
advogados e restringir o uso de
provas obtidas por meios truculentos, "são apropriadas para julgar inimigos que violam as leis de
guerra", afirma agora o presidente norte-americano. A frustração
provocada pela decisão nas organizações defensoras de direitos
humanos nos EUA foi proporcional ao júbilo que instilou na
base do Partido Republicano.
Barack Obama não resistiu ao
lobby intenso, oriundo do aparato militar e de inteligência, contra a transferência dos juízos para as cortes comuns. Dick Cheney, que foi vice de Bush, liderou
o embate na opinião pública.
Mencionavam-se os riscos potenciais para a segurança dos
EUA de julgar terroristas perigosos em solo americano, sob níveis de transparência que poderiam revelar dados estratégicos.
Visto em perspectiva, o recuo
não traz novidade. Presidentes
democratas, tidos como menos
compromissados com questões
de segurança nacional, vez ou
outra se sentem compelidos a
dar demonstrações de que também sabem falar grosso.
Não deixa de ser constrangedor, no entanto, que a tendência
se repita com Barack Obama, o
arauto da "mudança".
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