São Paulo, sábado, 16 de maio de 2009

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Editoriais

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Obama na prática

APÓS retumbante início de governo, com medidas de impacto simbólico no sentido de reparar danos aos direitos civis produzidos na administração Bush, Barack Obama começa a recuar. Ontem a Casa Branca confirmou que serão retomados os polêmicos julgamentos de acusados por práticas terroristas em cortes militares.
Esses processos secretos, altamente favoráveis à acusação, foram um dos alvos prediletos do democrata durante a campanha eleitoral do ano passado. Na época, Obama costumava qualificar a experiência das cortes militares como "fracasso enorme". Também afirmava que a manutenção desses tribunais era uma afronta aos valores americanos.
O clima de mudança foi reforçado na posse. No primeiro dia de trabalho, o novo presidente ordenou que todos os julgamentos militares fossem suspensos por 120 dias. Com o prazo prestes a expirar, Obama produziu uma guinada não só no discurso, mas também na prática.
Cortes militares, desde que acrescidas de algumas prerrogativas para ampliar a presença de advogados e restringir o uso de provas obtidas por meios truculentos, "são apropriadas para julgar inimigos que violam as leis de guerra", afirma agora o presidente norte-americano. A frustração provocada pela decisão nas organizações defensoras de direitos humanos nos EUA foi proporcional ao júbilo que instilou na base do Partido Republicano.
Barack Obama não resistiu ao lobby intenso, oriundo do aparato militar e de inteligência, contra a transferência dos juízos para as cortes comuns. Dick Cheney, que foi vice de Bush, liderou o embate na opinião pública. Mencionavam-se os riscos potenciais para a segurança dos EUA de julgar terroristas perigosos em solo americano, sob níveis de transparência que poderiam revelar dados estratégicos.
Visto em perspectiva, o recuo não traz novidade. Presidentes democratas, tidos como menos compromissados com questões de segurança nacional, vez ou outra se sentem compelidos a dar demonstrações de que também sabem falar grosso.
Não deixa de ser constrangedor, no entanto, que a tendência se repita com Barack Obama, o arauto da "mudança".


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