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CLÓVIS ROSSI
Brasileiro desiste, sim
SÃO PAULO - Lembra-se daquela
história de que "brasileiro não desiste nunca", muito usada na propaganda do governo? Pois não é que
um dos garotos propaganda da história desistiu do Brasil? Chama-se
Ronaldo Nazário de Lima, mais conhecido como Ronaldo Fenômeno,
e confessou ontem, durante a sabatina Folha, que prefere educar os
filhos na Europa.
Por dois motivos básicos: segurança e educação. Ronaldo contou
que, quando seu filho vem ao Brasil
e se junta a garotos brasileiros da
mesma faixa etária, é impressionante a quantidade de palavrões
que dizem os amigos do filho.
Já Ronald é "doce", "europeu",
diz o pai. Na prática, quer dizer o
seguinte: a educação que recebe na
Espanha, onde vive com a mãe, o
torna mais civilizado que seus companheiros no Brasil.
Quando observei que a comparação parecia racista, o jogador devolveu: é apenas realista. Fechou com
uma frase irrespondível: "A gente
tem que pensar nos filhos".
É nessas horas que o Brasil dói na
gente. É quando uma pessoa inteligente, informada e que teve a oportunidade de comparar o país com
outro (ou outros) desiste de criar os
filhos nestes tristes trópicos. E não
se trata de um filho ou neto de espanhol, italiano, russo, javanês ou
marciano, mas do arquétipo do
brasileiro.
Se alguém precisar de um personagem com todas as características
que se atribuem ao brasileiro, chamará Ronaldo para o papel.
Dói mais porque uma pessoa
com o jeito Ronaldo de ser desiste
do Brasil para os filhos depois de
14,5 anos de dois presidentes que
mais história e preocupação tinham com a questão social, que envolve, como é óbvio, segurança,
educação e outras coisas mais.
Como fica ilusória essa história
de potência emergente diante da
constatação de que não emergiu
um país em que um brasileiro típico deseje criar filhos.
crossi@uol.com.br
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