São Paulo, sexta-feira, 16 de junho de 2000


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VALDO CRUZ

A conta da camisinha

BRASÍLIA - Em nome da moral e da vida, o Vaticano aplicou um puxão de orelhas num bispo brasileiro e condenou sua defesa do uso de camisinhas. Sei não, mas essa posição conservadora da Santa Sé pode acabar sendo contra, e não a favor da vida.
O bispo Eugène Rixen, de Goiânia, havia defendido uma posição mais flexível em relação ao uso de preservativos. Durante o encontro "Aids e Desafios para a Igreja no Brasil", dom Eugène disse que, "entre a camisinha e a expansão da Aids, somos obrigados a escolher o mal menor".
O Vaticano logo entrou em cena e sacramentou, por meio de seu representante, monsenhor Javier Barragán: "A Igreja Católica não aceita o preservativo. Não, não e não".
Enquanto isso, no mundo todo jovens e mais jovens são contaminados pelo vírus da Aids. No último ano, morreram de Aids na América Latina 49 mil pessoas. Só de novas infecções na região foram 150 mil em 99.
Diante da posição radical da Santa Sé, a minha dúvida é sobre como a Igreja deve tratar aqueles jovens que não são católicos, mas que um dia podem ser? Ou aqueles que não são católicos convictos? Com certeza eles não partilham dessa visão dogmática do Vaticano sobre o sexo restrito ao casamento e pela procriação.
O discurso de que não se deve usar camisinha e optar pela abstinência sexual não cola com esse grupo de jovens. A Igreja deve, então, abandoná-los à própria sorte, deixando-os engrossar a lista dos contaminados?
A base da Igreja acha que não, ainda bem. No Brasil, com o apoio do Ministério da Saúde, vários religiosos distribuem camisinhas apesar da oposição da direção da Igreja.
Diz o representante do Vaticano, monsenhor Barragán, que esses religiosos não serão punidos, mas terão de fazer um acerto de contas com Deus. Não teria tantas certezas como o monsenhor sobre quem um dia será obrigado a prestar contas.


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