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VALDO CRUZ
A conta da camisinha
BRASÍLIA - Em nome da moral e da vida, o Vaticano aplicou um puxão
de orelhas num bispo brasileiro e
condenou sua defesa do uso de camisinhas. Sei não, mas essa posição conservadora da Santa Sé pode acabar
sendo contra, e não a favor da vida.
O bispo Eugène Rixen, de Goiânia,
havia defendido uma posição mais
flexível em relação ao uso de preservativos. Durante o encontro "Aids e
Desafios para a Igreja no Brasil",
dom Eugène disse que, "entre a camisinha e a expansão da Aids, somos
obrigados a escolher o mal menor".
O Vaticano logo entrou em cena e
sacramentou, por meio de seu representante, monsenhor Javier Barragán: "A Igreja Católica não aceita o
preservativo. Não, não e não".
Enquanto isso, no mundo todo jovens e mais jovens são contaminados
pelo vírus da Aids. No último ano,
morreram de Aids na América Latina 49 mil pessoas. Só de novas infecções na região foram 150 mil em 99.
Diante da posição radical da Santa
Sé, a minha dúvida é sobre como a
Igreja deve tratar aqueles jovens que
não são católicos, mas que um dia
podem ser? Ou aqueles que não são
católicos convictos? Com certeza eles
não partilham dessa visão dogmática
do Vaticano sobre o sexo restrito ao
casamento e pela procriação.
O discurso de que não se deve usar
camisinha e optar pela abstinência
sexual não cola com esse grupo de jovens. A Igreja deve, então, abandoná-los à própria sorte, deixando-os
engrossar a lista dos contaminados?
A base da Igreja acha que não, ainda bem. No Brasil, com o apoio do
Ministério da Saúde, vários religiosos
distribuem camisinhas apesar da
oposição da direção da Igreja.
Diz o representante do Vaticano,
monsenhor Barragán, que esses religiosos não serão punidos, mas terão
de fazer um acerto de contas com
Deus. Não teria tantas certezas como
o monsenhor sobre quem um dia será
obrigado a prestar contas.
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