São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2004

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MANOBRA CHINESA

No mais recente episódio da disputa comercial acerca da soja, o governo da China anunciou a suspensão temporária da importação do produto de 15 empresas do Brasil, elevando a 23 o número de exportadores brasileiros impedidos de vender para o país asiático. Os prejuízos para as exportações do Brasil foram calculados em cerca de US$ 1 bilhão pelo ministro da Agricultura.
A razão alegada pelo Ministério da Quarentena, da China, foi o fato de que há nas remessas brasileiras uma mistura de grãos prontos para o consumo e de sementes tratadas com fungicida considerado impróprio para ingestão humana e animal. No início de maio, o governo chinês, tão cortejado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em recente visita àquele país, decidiu endurecer seu padrão sanitário, adotando um critério de tolerância zero. Nem mesmo os EUA e a Europa impõem medidas tão restritivas quanto as recentemente anunciadas pelos chineses.
Não se trata de afirmar que a soja exportada pelo Brasil tenha qualidade irretocável. Mas conta a favor dos exportadores o fato de que a mercadoria tem sido aceita em países reconhecidamente exigentes, como os da União Européia. Além disso -em resposta à política chinesa- o governo federal decidiu aperfeiçoar as normas de qualidade, determinando o limite de uma semente tratada com agrotóxico por quilo do produto.
Tudo isso indica que o problema não é a qualidade dos grãos exportados. O embargo chinês certamente deve-se à queda do preço da soja. Interessa aos importadores chineses suspender contratos de compra antigos, diante da alternativa de firmar novos, a preços mais baixos.
O episódio demonstra mais uma vez como exigências sanitárias são utilizadas como barreiras comerciais. O caso evidencia a necessidade de que as autoridades brasileiras zelem pelo aprimoramento dos controles de qualidade e insistam na denúncia e no combate a esses artifícios nos fóruns internacionais.


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