São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2004

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CURA E POBREZA

Populações de baixa renda levam desvantagem nos mais variados aspectos da vida -inclusive no tratamento do câncer. Estudo inédito no país feito pelo Hospital do Câncer de São Paulo mostra a correlação entre baixa escolaridade -faixa em que a pobreza é maior- e reduzidas chances de curar a moléstia.
Um dos exemplos mais gritantes da diferença entre ricos e pobres é o dado que diz respeito ao câncer de mama. De acordo com o trabalho, 73,3% das mulheres que detectaram a moléstia em seus estágios iniciais tinham o ensino médio ou superior completo. Na maioria dos tumores, a detecção precoce melhora as perspectivas do paciente.
São várias as explicações para o fenômeno. Elas vão desde o menor nível de informação dos mais pobres até as notórias dificuldades de acesso aos serviços de saúde. Mas o problema não está restrito à ignorância e à precariedade da rede pública. Outro ponto que não pode mais ser negligenciado é o despreparo de médicos para diagnosticar e tratar o câncer.
A proporção entre casos de câncer diagnosticados e a população é claramente mais baixa no Brasil do que nos EUA. Daí, segue-se que ou o DNA do brasileiro é mais estável ou existem dificuldades de detecção por aqui. Convém, obviamente, apostar na segunda hipótese.
É claro que são desproporcionais os recursos à disposição de médicos brasileiros e norte-americanos. Ainda assim, é possível identificar problemas que pouco ou nada têm a ver com verbas e equipamentos. Apenas uma pequena minoria das cerca de 120 escolas médicas do Brasil mantém a disciplina de oncologia em seus currículos de graduação. O médico típico brasileiro sai da faculdade sem ter estudado os vários cânceres de forma sistemática e integrada.
No mais, permanecem os preconceitos. Um diagnóstico de tumor maligno ainda é tomado como sentença de morte, às vezes até entre médicos. Essa situação não se justifica, já que, no atual estado da medicina, pode-se falar em cura para mais de 50% dos pacientes com câncer.


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