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CLÓVIS ROSSI
Navegação às cegas
SÃO PAULO - Os dois números mais recentes desta Folha oferecem preciosas, ainda que tristes, demonstrações de que o país está em uma navegação
às cegas, para a qual não há à vista
porto nenhum, seguro ou inseguro.
Começou com a belíssima entrevista de Plínio Fraga, na segunda-feira,
com o brasilianista Marshall C. Eakin, doutor pela Universidade da Califórnia em Los Angeles e historiador
da Vanderbilt University (também
EUA), na qual ele constata que, "na
América Latina, mesmo com a vitória eleitoral de esquerdistas, no poder
eles tiveram de continuar o modelo
neoliberal. Como fazer a justiça social no mesmo modelo econômico
dos conservadores? A esquerda ainda
não tem resposta".
Como a direita, que governou uns
500 anos, também não tem...
Ontem, foi a vez do senador Cristovam Buarque (PT-DF) confessar que
"esquerda nascida no ABC (leia-se o
PT) chegou à Presidência com um
projeto de poder, mas sem projeto para utilizá-lo".
É o mais perto que um petista poderia chegar de confessar estelionato
eleitoral, já que tudo o que o PT tinha
era um projeto de poder, mas não um
projeto de governo.
Por dever de ofício, o senador ainda
diz que, talvez, o partido consiga
criar algo. Duvido: se, em 23 anos de
vida, o PT limitou-se a descobrir como chegar ao poder, será difícil que,
nos 30 meses que lhe restam, descubra o que fazer com ele.
Por fim, Roberto Mangabeira Unger, um dos últimos (e admiráveis)
quixotes da República, lamenta que
a "história do Brasil de hoje" seja
apenas um "caldeirão reduzido a
marasmo, governado no regime tucano-petista por gente que junta a
covardia com a falta de imaginação.
Para sair disso, é preciso mudar, ao
mesmo tempo, o poder e as idéias. (...)
Ninguém ainda sabe como".
Terrível não? Mas é uma descrição
acurada da realidade. O que significa
que as coisas tendem a piorar antes
de que comecem a melhorar. Se é que
começarão.
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