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FERNANDO RODRIGUES
Intolerância
BRASÍLIA - O caso dos supostos espiões no Palácio do Planalto embute
um fato que resume à perfeição a intolerância do governo Lula com certas liberdades republicanas. Trata-se
da reação de fúria desmedida contra
jornais e jornalistas toda vez que
uma informação dada como reservada acaba vazando para fora dos limites da administração petista.
No episódio atual, é possível que
um ministro de Estado tenha ordenado à Abin (Agência de Brasileira
de Inteligência) que investigasse a
forma como informações escorrem
para fora do Planalto. Em resumo,
como jornais e jornalistas ficam sabendo sobre os detalhes de discussões
do governo -a história de infiltração tucana é cortina de fumaça.
Não se trata aqui de apurar algo ultra-secreto -a fórmula da bomba
atômica ou como o Fome Zero funciona (sic). Nada disso. A irritação
dos petistas se materializa por causa
da reprodução de diálogos quase banais pela mídia. Por exemplo, quando na semana passada o ministro José Dirceu (Casa Civil) desabafou a
Lula, dizendo-se "sacaneado" dentro
do próprio governo. Pronto. Basta
uma palavra entre aspas para a paranóia atingir seu ápice.
Tudo caminha para o abafamento
do caso. Os agentes da Abin negam a
arapongagem. Podem ser afastados
assim mesmo. O assunto estará encerrado. Será mais um esqueleto da
prolífica safra lulista.
A Abin informa em seu sítio na internet que "desenvolve atividades"
voltadas para a "defesa do Estado democrático de Direito, da sociedade,
da eficácia do poder público e da soberania nacional".
Se a agência secreta bisbilhotou para descobrir como jornais obtêm notícias, houve desvirtuamento grave
de função. Alguém merece ser punido. Não será. A não ser que Lula decida-se por uma reforma ministerial
-até para debelar de uma vez a cizânia entre Dirceu e Aldo Rebelo.
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