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CARLOS HEITOR CONY
Jornais de ontem e de hoje
RIO DE JANEIRO - Todos sabemos que a mídia atravessa uma de suas
piores crises econômicas, cujas causas
são complexas e sobre as quais falta-me autoridade para falar. Como simples usuário de jornais, revistas, rádios e TVs, acompanho a caça aos leitores e à publicidade, os dois tradicionais esteios da operação de manter
um veículo em vida orgânica.
Os custos exagerados da indústria
midiática desequilibraram a equação, e vejo emocionado a procura de
fórmulas salvadoras. Um detalhe salta aos olhos: política, personagens e
fatos políticos mantêm uma considerável massa de leitores, que não se expandem, pelo contrário, envelhecem
e se fadigam das mesmices de cada
crise, de cada escândalo, de cada articulação.
O esporte é a porta de entrada dos
jovens para a mídia, funciona e funcionará sempre, mas condicionado
às emoções de cada modalidade, ao
desempenho de craques, às variantes
dos torneios e chaves.
No último domingo, examinando a
capa das revistas semanais e as principais chamadas dos jornais, verifiquei que saúde, beleza e comportamento são as pautas hoje prioritárias
na conquista dos leitores. Por mais
emocionante que seja a briga pelo
novo salário mínimo, por mais que
um senador convide outro senador
para brigar lá fora, por mais que se
especule se o ministro tal está sendo
fritado, nada disso faz aumentar as
vendas avulsas nem chega a impressionar o universo potencial de consumidores.
Daí a insistência da mídia em divulgar grandes matérias provando
que o fumo mata, que o câncer pode
ser curado, que os hábitos alimentares condicionam beleza, saúde e rendimento escolar, que a violência urbana deve ser combatida pelo mutirão de cidadãos conscientizados.
Antigamente, fundava-se um jornal ou uma revista para ser do fulano
ou do sicrano. Era o jornal do Patrocínio, do Ruy, do Assis Chateaubriand. Esse tempo passou. Hoje, o
jornal é do leitor.
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