São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Jornais de ontem e de hoje

RIO DE JANEIRO - Todos sabemos que a mídia atravessa uma de suas piores crises econômicas, cujas causas são complexas e sobre as quais falta-me autoridade para falar. Como simples usuário de jornais, revistas, rádios e TVs, acompanho a caça aos leitores e à publicidade, os dois tradicionais esteios da operação de manter um veículo em vida orgânica.
Os custos exagerados da indústria midiática desequilibraram a equação, e vejo emocionado a procura de fórmulas salvadoras. Um detalhe salta aos olhos: política, personagens e fatos políticos mantêm uma considerável massa de leitores, que não se expandem, pelo contrário, envelhecem e se fadigam das mesmices de cada crise, de cada escândalo, de cada articulação.
O esporte é a porta de entrada dos jovens para a mídia, funciona e funcionará sempre, mas condicionado às emoções de cada modalidade, ao desempenho de craques, às variantes dos torneios e chaves.
No último domingo, examinando a capa das revistas semanais e as principais chamadas dos jornais, verifiquei que saúde, beleza e comportamento são as pautas hoje prioritárias na conquista dos leitores. Por mais emocionante que seja a briga pelo novo salário mínimo, por mais que um senador convide outro senador para brigar lá fora, por mais que se especule se o ministro tal está sendo fritado, nada disso faz aumentar as vendas avulsas nem chega a impressionar o universo potencial de consumidores.
Daí a insistência da mídia em divulgar grandes matérias provando que o fumo mata, que o câncer pode ser curado, que os hábitos alimentares condicionam beleza, saúde e rendimento escolar, que a violência urbana deve ser combatida pelo mutirão de cidadãos conscientizados.
Antigamente, fundava-se um jornal ou uma revista para ser do fulano ou do sicrano. Era o jornal do Patrocínio, do Ruy, do Assis Chateaubriand. Esse tempo passou. Hoje, o jornal é do leitor.


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