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NELSON MOTTA
Enquanto a bola rola
RIO DE JANEIRO - Quem já assistiu a um grande jogo em um belo
estádio lotado sabe do que estou falando. Não há nada melhor, ainda
mais se for em um bom lugar, como
a tribuna de imprensa, bem no
meio do campo.
Cobrir uma Copa do Mundo é a
maior ambição de um jornalista de
esportes e o sonho de consumo de
cronistas de qualquer especialidade, que, antes de tudo, são torcedores e naturalmente entendem muito de futebol.
Já tive o privilégio de fazer parte
dessa elite multirracial muitas vezes, trabalhando para diversos jornais como cronista de amenidades:
foi duro, mas foi bom. É uma experiência inesquecível, pelo privilégio
de ver os jogos de perto e vivenciar a
diferença entre estar nas primeiras
filas de um show, sentindo seu som,
seu calor e sua presença, ou vê-lo na
televisão, com todos os seus ângulos, closes e replays.
Nos dias de jogos do Brasil, os invejo, nos outros, me compadeço,
lembrando dos intermináveis vazios entre as partidas, entre o tédio
e a tensão, na busca diária e desesperada de um assunto em Los Angeles, Turim, Paris ou Guadalajara.
Os repórteres sofrem para extrair
notícias de onde elas pouco ocorrem -os generais não revelam seus
planos de batalha- e para arrancar
informações e idéias de atletas de
expressão limitadíssima e sob pressão máxima, em batalhas diárias
que exigem grande esforço. E muita
imaginação.
Os cronistas, esportivos ou não,
craques das idéias e das palavras,
penam durante 30 dias para encontrar um tema e tentar trazer o leitor-torcedor para o teatro de operações, fazê-lo sentir o cheiro de sangue e o perfume da glória. Mas o que
todos mais querem e fazem, com infinito prazer, é comentar os jogos,
criticar o time, exigir escalações e
propor mudanças de tática.
Como todos nós.
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