São Paulo, sexta-feira, 16 de junho de 2006

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NELSON MOTTA

Enquanto a bola rola

RIO DE JANEIRO - Quem já assistiu a um grande jogo em um belo estádio lotado sabe do que estou falando. Não há nada melhor, ainda mais se for em um bom lugar, como a tribuna de imprensa, bem no meio do campo.
Cobrir uma Copa do Mundo é a maior ambição de um jornalista de esportes e o sonho de consumo de cronistas de qualquer especialidade, que, antes de tudo, são torcedores e naturalmente entendem muito de futebol.
Já tive o privilégio de fazer parte dessa elite multirracial muitas vezes, trabalhando para diversos jornais como cronista de amenidades: foi duro, mas foi bom. É uma experiência inesquecível, pelo privilégio de ver os jogos de perto e vivenciar a diferença entre estar nas primeiras filas de um show, sentindo seu som, seu calor e sua presença, ou vê-lo na televisão, com todos os seus ângulos, closes e replays.
Nos dias de jogos do Brasil, os invejo, nos outros, me compadeço, lembrando dos intermináveis vazios entre as partidas, entre o tédio e a tensão, na busca diária e desesperada de um assunto em Los Angeles, Turim, Paris ou Guadalajara.
Os repórteres sofrem para extrair notícias de onde elas pouco ocorrem -os generais não revelam seus planos de batalha- e para arrancar informações e idéias de atletas de expressão limitadíssima e sob pressão máxima, em batalhas diárias que exigem grande esforço. E muita imaginação.
Os cronistas, esportivos ou não, craques das idéias e das palavras, penam durante 30 dias para encontrar um tema e tentar trazer o leitor-torcedor para o teatro de operações, fazê-lo sentir o cheiro de sangue e o perfume da glória. Mas o que todos mais querem e fazem, com infinito prazer, é comentar os jogos, criticar o time, exigir escalações e propor mudanças de tática.
Como todos nós.


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