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CLÓVIS ROSSI
A peculiar ética dos senadores
SÃO PAULO - O senador Renan
Calheiros pode até ser inocente. Ficou mais difícil ainda acreditar depois que a história de seu gado se revelou mais malcheirosa do que excremento bovino. Mas ainda pode
ser inocente.
Quem definitivamente não merece mais crédito são seus colegas
Sibá Machado, presidente do Conselho de Ética do Senado, e Epitácio
Cafeteira, relator do caso.
Os dois demitiram-se do dever
elementar de funcionário público
que é o de cumprir o papel para o
qual foram designados. Recusaram-se liminarmente a investigar
um acusado. Não importa que Calheiros seja um acusado de altíssimo calibre, o segundo na linha de
sucessão presidencial.
Importa que Conselho de Ética
deveria servir para apurar e punir
desvios de conduta de membros do
Senado, não para absolvê-los sem
apuração.
A grave falha funcional de Cafeteira e Machado já era evidente,
mas ficou ainda mais grave pelo fato de que o jornalista Fernando Rodrigues, nesta Folha, e a equipe do
"Jornal Nacional", da Rede Globo,
não precisaram de mais do que alguns dias e uma única arma (a curiosidade inerente ao ofício) para
desmontar a peça principal de defesa de Calheiros.
Fosse a ética uma preocupação
real dos senadores, teriam muitíssimo mais poderes do que meros
jornalistas para apurar se a versão
de Calheiros é ou não fictícia.
Como a única real preocupação
dos senadores, com meia dúzia, se
tanto, de exceções, é com o corporativismo mais descarado, ofereceu-se ao público já farto de trambiques mais uma cena explícita de
defesa de privilégios, mais uma
prova de que o mundo político é um
planeta à parte, que gira em torno
dos próprios interesse, e que o bem
público é para eles motivo de piada.
Fosse o Brasil um país minimamente sério, Machado e Cafeteira
no mínimo demitir-se-iam de seus
cargos. Como não é...
crossi@uol.com.br
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