São Paulo, sexta-feira, 16 de julho de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Um novo PTB

ROBERTO JEFFERSON

A Executiva Nacional do Partido Trabalhista Brasileiro determinou, em outubro de 2002, que o partido se aliasse ao presidente Lula e o ajudasse a governar o Brasil. De lá para cá, o compromisso do PTB tem sido cumprido à risca, como demonstra a atuação dos petebistas no Congresso e em manifestações públicas.
Todas as iniciativas do PTB têm sido positivas, destinadas a reforçar a governabilidade e permitir que o país retome o crescimento de forma sustentada para finalmente saldar sua grande e histórica dívida social. Votamos com o governo em todas as reformas propostas ou endossadas pelo presidente Lula e temos contribuído no Congresso com projetos e sugestões relevantes para a vida política, econômica e social do país.
Também desde as eleições de 2002 o PTB cresceu mais de 100%: na Câmara, passou de uma bancada de 26 deputados eleitos para os atuais 52 e de dois para três senadores. Esse avanço evidencia como as atitudes de nosso partido têm galvanizado os parlamentares e a opinião pública. Mais do que em quantidade, porém, o partido ganhou em qualidade, incorporando caras novas e biografias consistentes, comprometidas com a construção de um projeto político forte e sólido.


A busca da convergência tem sido a característica fundamental do PTB ao longo de sua história, de 1946 até hoje


Uma palavra sintetiza o eixo político que orientou a decisão de apoiar o governo Lula tal como tem sido feito: "convergência". Não é uma postura nova. A busca da convergência tem sido a característica fundamental do PTB ao longo de sua história, de 1946 até hoje.
Quando o Brasil conquistou a redemocratização, após o regime militar, sem abrir mão de nossas convicções, passamos a pregar e a colocar em prática um novo trabalhismo, arejado e moderno, consoante com o que ocorria em países de tradição trabalhista. Esse novo trabalhismo, a exemplo do que ocorreu em países como Austrália e Nova Zelândia, sabe que no mundo de hoje já não é possível seguir com as políticas que caracterizaram os difíceis tempos de reconstrução que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, quando o Estado devia assumir diretamente os investimentos, interferir na produção econômica e tomar para si uma ampla gama de políticas sociais compensadoras.
A realidade contemporânea evidenciou que políticas como as implementadas há 50 anos ou mais acabam tolhendo o dinamismo econômico, comprometendo a saúde fiscal do Estado e acarretando os problemas que se supunha estar combatendo. Hoje, temos um partido preocupado essencialmente em criar e assegurar sobre bases sólidas o emprego aos trabalhadores, independentemente de sexo, credo ou estratificação social e sem discriminações entre o trabalho físico e aquele considerado intelectual.
Sabemos que esse projeto, embora realizável, não se concebe em um estalar de dedos. Sabemos que a mesma caneta que, manipulada de forma irresponsável, tentar promover o desenvolvimento e o emprego por decreto será obrigada, mais dia, menos dia, a promover cortes e adotar medidas restritivas severas, trazendo ainda mais sofrimento para o nosso povo.
A situação atual exige desprendimento e lealdade, independente de cargos nos altos e baixos escalões. O PTB, ao se decidir pelo apoio ao governo Lula, insistimos, não o fez barganhando cargos ou verbas. Até mesmo a ida do petebista Walfrido Mares Guia para o Ministério do Turismo foi escolha pessoal do presidente da República. É claro que ela muito nos orgulha, pois, além de quadro político do PTB, ele é um homem de idéias e um executivo notável. Sua presença no governo, portanto, nada tem a ver com a velha e condenável prática do fisiologismo.
O PTB não só se recusa a seguir a prática fisiológica, do toma-lá-dá-cá, já que não pede nada em troca e não barganha -mais que isso, apoiamos o governo nas medidas que adota e que vier a adotar para que isso não ocorra. O PTB reivindica apenas ser reconhecido, apesar da idade, como uma das melhores forças inovadoras na política partidária brasileira. Queremos ocupar, ao lado do PT, o centro do espectro político.
Agora mesmo, ao selar o apoio à candidatura à reeleição de Marta Suplicy, em São Paulo, assim como em Goiânia, Rio de Janeiro, Rio Branco, Aracaju e Curitiba, entre outras cidades, não fizemos mais do que reafirmar o apoio incondicional ao governo do PT. Não impusemos condições de espécie nenhuma. Foi a escolha natural dentro do processo de construção de um novo caminho político.
A partir de 2006, o PTB quer deixar de vez o papel de coadjuvante e ser protagonista na formulação das políticas de governo. Temos trabalhado muito para chegar a esse objetivo. E lá estaremos, com muito trabalho e seriedade, na busca da convergência, pois o Brasil é um só e só se desenvolverá de forma sustentada como todos merecemos se o caminho for o do consenso possível.

Roberto Jefferson Monteiro Francisco, 51, advogado criminalista, deputado federal pelo PTB-RJ, é o presidente nacional do partido.


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