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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Favelópolis
SÃO PAULO - Como você, morador de Higienópolis, do Pacaembu,
de Perdizes, da Vila Madalena, do
Alto de Pinheiros, do Itaim Bibi, da
Vila Nova Conceição, do Morumbi,
dos Jardins -como você, leitor,
reagiria à notícia de que um em cada seis paulistanos vive em favelas?
É o que diz um estudo divulgado
ontem pelo jornal "O Estado de S.
Paulo". Em quatro anos, a população favelada da cidade teria crescido assombrosos 38% -eram 290
mil famílias nessa condição em
2003; são hoje 400 mil famílias (de
1,6 milhão a 2 milhões de pessoas).
O estudo revela, porém, que a
área ocupada pelas favelas permaneceu praticamente a mesma; a expansão se deu sobretudo pela verticalização e/ou pelo inchaço das favelas já existentes, o que aponta para os limites da fronteira urbana e
sugere um processo de "marginalização dentro da marginalidade",
para usar as palavras do ensaísta
Mike Davis, autor do livro "Planeta
Favela" (2006, Boitempo).
Parece que estamos diante do
PAF -o Programa de Aceleração
das Favelas-, cujo êxito é incontestável. A favelização de São Paulo
nessa escala é ainda mais assustadora porque vem acompanhada por
uma cortina de invisibilidade.
No Rio, bem ou mal as favelas
têm história, têm enredo, inventam
seus heróis e seus bandidos, são, como diz Walter Benjamin, monumentos de cultura e de barbárie.
Várias delas estão debruçadas sobre a zona sul, produzindo um ambiente de promiscuidade e contraste, o cenário de uma cidade conflagrada. Prédios de alto padrão estão
blindando suas fachadas contra os
efeitos da guerra do tráfico.
Em São Paulo, por ironia perversa, o agravamento da favelização
vem a público em meio a um boom
imobiliário. Chovem nos jornais
ofertas de recantos paradisíacos,
repletos de área verde, lazer, segurança total. Há até um empreendimento que usa a Bossa Nova como
isca de um estilo de vida desfrutável. Não temos o Pan, não temos o
Cristo Redentor, mas Tom Jobim
-agora ele é nosso!
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