|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RETIRADA HISTÓRICA
A retirada de Israel da faixa de
Gaza representa um momento
histórico. É a primeira vez que o Estado judeu entrega a palestinos territórios conquistados na guerra de
1967. É verdade que Israel já devolvera o Sinai, na década de 1980, mas a
península foi restituída ao Egito, um
Estado consolidado. A saída de Gaza
significa antes de mais nada que o
governo israelense está finalmente
desistindo da idéia de recompor a Israel bíblica, um sonho ainda alimentado por parte da direita religiosa.
Embora conte com o apoio da
maioria da população israelense, a
retirada vai ocorrer num ambiente de
tensão. Parte dos colonos rebelou-se
contra a lei que determina o fechamento dos assentamentos e promete
resistir à evacuação.
Para dar um pouco mais de simbolismo ao gesto de abandonar Gaza,
vale observar que a decisão de fazê-lo
foi tomada pelo premiê Ariel Sharon,
que, no passado, foi um dos principais incentivadores dos assentamentos judaicos em terras palestinas.
É justamente o passado de Sharon
que inspira dúvidas quanto ao futuro. A retirada de Gaza poderá constituir-se num passo decisivo para a retomada do processo de paz ou revelar-se uma manobra pela qual Israel
busca ganhar tempo para consolidar
sua presença na Cisjordânia -o que
na prática eternizaria o conflito.
Para que prevaleça a primeira via, é
importante que os palestinos participem do processo e se mostrem capazes de controlar seus radicais, impedindo a realização de ataques terroristas contra israelenses. Essa é uma
condição necessária, mas não suficiente, para a paz. É também fundamental que Sharon não acalente o
projeto de trocar Gaza por uma presença substancial na Cisjordânia.
É até possível que, no contexto de
negociações bilaterais, Israel conserve um ou dois assentamentos naquela região, mediante compensações
financeiras, mas só haverá perspectivas reais de avanço se ambos os lados
observarem sem reservas, manifestas ou secretas, o princípio geral de
trocar os territórios ocupados em
1967 por uma paz duradoura.
Texto Anterior: Editoriais: AVANÇO APARENTE Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: O "véio Arraia" e o livrinho Índice
|