São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Os juros são de Lula

SÃO PAULO - Pode-se dizer o que se quiser sobre o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, mas é conveniente deixar claro que o responsável direto e principal pelas decisões do Copom (Comitê de Política Monetária) chama-se Luiz Inácio Lula da Silva.
Explico: quando o BC aumentou os juros, em janeiro de 2003, o presidente da República foi consultado antes. Resistiu um pouco, mas foi convencido pelo argumento (a meu ver cabalístico, não técnico) de que, no Brasil, a inflação, sempre que chega a dois dígitos, dispara.
Essa informação foi publicada pela Folha no dia 25 de janeiro de 2003. O BC ensaiou um desmentido, informando que a decisão fora estritamente técnica, o que não estava em causa. Mas foi incapaz de negar que Lula fora consultado, porque sabia quem era a fonte da informação e que ela era indesmentível.
A partir daí, acentuou-se o esforço para transparecer que não havia a menor interferência política nas decisões do Copom sobre juros.
Pode ser, pode não ser, mas gostaria que alguém do governo me explicasse por que, se houve uma consulta ao presidente em um dado momento, não haveria outras em momentos subseqüentes?
Parece evidente que há, no governo, uma disputa pelo coração do presidente entre os que querem baixar os juros e os que não querem e, pior, insistem em aumentá-los, proeza que ontem conseguiram.
No entanto, pelos antecedentes narrados, seria no mínimo injusto tentar caracterizar Meirelles e seus assessores no BC como os únicos vilões dessa história (para quem acha que subir os juros é errado).
Parece claro, pelas declarações do ministro José Dirceu contra o aumento, que ele falhou na tentativa de ganhar o presidente para a sua tese. Mas não culpe Meirelles (ou só ele), e sim o medo de Lula de mudar, o que o leva a optar pelo mais extremo conservadorismo.


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