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CLÓVIS ROSSI
Os juros são de Lula
SÃO PAULO - Pode-se dizer o que se quiser sobre o presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles, mas é
conveniente deixar claro que o responsável direto e principal pelas decisões do Copom (Comitê de Política
Monetária) chama-se Luiz Inácio
Lula da Silva.
Explico: quando o BC aumentou os
juros, em janeiro de 2003, o presidente da República foi consultado antes.
Resistiu um pouco, mas foi convencido pelo argumento (a meu ver cabalístico, não técnico) de que, no Brasil,
a inflação, sempre que chega a dois
dígitos, dispara.
Essa informação foi publicada pela
Folha no dia 25 de janeiro de 2003. O
BC ensaiou um desmentido, informando que a decisão fora estritamente técnica, o que não estava em
causa. Mas foi incapaz de negar que
Lula fora consultado, porque sabia
quem era a fonte da informação e que
ela era indesmentível.
A partir daí, acentuou-se o esforço
para transparecer que não havia a
menor interferência política nas decisões do Copom sobre juros.
Pode ser, pode não ser, mas gostaria
que alguém do governo me explicasse
por que, se houve uma consulta ao
presidente em um dado momento,
não haveria outras em momentos
subseqüentes?
Parece evidente que há, no governo,
uma disputa pelo coração do presidente entre os que querem baixar os
juros e os que não querem e, pior, insistem em aumentá-los, proeza que
ontem conseguiram.
No entanto, pelos antecedentes narrados, seria no mínimo injusto tentar
caracterizar Meirelles e seus assessores no BC como os únicos vilões dessa
história (para quem acha que subir os
juros é errado).
Parece claro, pelas declarações do
ministro José Dirceu contra o aumento, que ele falhou na tentativa de ganhar o presidente para a sua tese.
Mas não culpe Meirelles (ou só ele), e
sim o medo de Lula de mudar, o que o
leva a optar pelo mais extremo conservadorismo.
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