São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Na lata

SÃO PAULO - Enquanto Lula e José Dirceu fazem jantares e rapapés em Brasília para ACM, Marta Suplicy diz que se recusa a subir em palanques com Paulo Maluf em São Paulo.
"Na lata: vou atrás de cada voto do Maluf, mas Maluf no meu palanque, não!", disse ela, corajosa, ao encerrar ontem as sabatinas da Folha com os "prefeitáveis". Taí, gostei. O PT não tem nada a ver com o PP, e Marta e Maluf, ao contrário do que acusa Luiza Erundina (PSB), não são "iguaizinhos". São como azeite e água. Tanto quanto Lula e ACM.
Lula e Dirceu querem votos no Senado, e Marta precisa de votos para se reeleger à prefeitura. Mas uns cedem despudoradamente, e a outra tenta manter alguma compostura. Bate até a tentação, corporativista, é claro, de dizer: coisa de mulher...
O fato é que, como não fez concessões ao PMDB e a Orestes Quércia para montar sua chapa, Marta não parece disposta a fazer ao PP e a Maluf para enfrentar o tucano José Serra no segundo turno. Lula, Dirceu e cia. podem estar tramando acordos do arco-da-velha com Maluf, mas por baixo dos panos. Marta diz que não topa. E ficaria muito feio ser flagrada depois em conluio com Maluf.
Políticos tradicionais apontarão um "erro estratégico" aí, no chega-pra-lá de Marta em Maluf. Mas faz sentido para quem não é do ramo, acha que um pouco de compostura política não faz mal a ninguém e gosta das coisas em pratos limpos.
O problema de Marta é outro. Se, na terça-feira, subiu ao palco o "Serrinha paz e amor", aplicado e um tanto monótono, Marta Suplicy ontem interpretou o personagem Marta Suplicy, com uma arrogância que transparece no tom de voz, no jeito de olhar, na risadinha sarcástica diante de perguntas dos jornalistas.
A prefeitura tem 42% de aprovação, e a prefeita, 33% da intenção de voto. Para aproximar esses índices, não bastam os votos malufistas. Que tal uma pitada de humildade?


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