São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2004

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PLÍNIO FRAGA

Zelig escrevinhador

RIO DE JANEIRO - "Reafirmo meu compromisso de, se eleito, permanecer no cargo de prefeito por quatro anos, até o último dia do mandato." Não, não são exatamente esses os termos do documento assinado anteontem, na sabatina da Folha, pelo candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra.
Quem colocou seu jamegão sob tal promessa aos eleitores de Ribeirão Preto (SP) foi Antonio Palocci Filho, em 18 de setembro de 2000. Fez questão de registrá-la em cartório, sabendo que eleitor desconfia de político em campanha. Dois anos, três meses e 14 dias depois, estava Palocci em Brasília para assumir o Ministério da Fazenda, após ter renunciado ao cargo de prefeito, que se havia comprometido a manter "até o último dia de mandato".
Palocci tentou o drible em quem cobrava o compromisso assinado: "Minha preocupação não é uma carta, é o voto das pessoas. Aquela carta dizia que eu não seria candidato, como efetivamente não fui", tergiversou.
Petistas já apelidaram o ministro da Fazenda de Zelig, o homem-camaleão, personagem-título do filme de Woody Allen lançado em 1983. Dono de múltiplas personalidades, o que pode ser entendido como nenhuma, Zelig moldava a sua de acordo com a do interlocutor.
Foi essa qualidade, se assim pode ser entendida, uma das razões que levaram Palocci ao Ministério da Fazenda. Concorda com a bancada petista e também com a banca financista. Zelig em estado puro.
Mas é injusto dizer que só Palocci padeça desse mal, se assim pode ser entendido. Zelig hoje é um qualificativo de todo o governo petista. José Serra encontrará precedente fácil para, caso vença a próxima eleição, deixar São Paulo nas mãos do vice Gilberto Kassab (aquele do governo Celso Pitta) e partir rumo ao Planalto. PT e PSDB, como provam suas administrações de 1995 até hoje, são partidos-camaleões, ambiente nato do Zelig escrevinhador.


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