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PLÍNIO FRAGA
Zelig escrevinhador
RIO DE JANEIRO - "Reafirmo meu compromisso de, se eleito, permanecer no cargo de prefeito por quatro
anos, até o último dia do mandato."
Não, não são exatamente esses os termos do documento assinado anteontem, na sabatina da Folha, pelo candidato do PSDB à Prefeitura de São
Paulo, José Serra.
Quem colocou seu jamegão sob tal
promessa aos eleitores de Ribeirão
Preto (SP) foi Antonio Palocci Filho,
em 18 de setembro de 2000. Fez questão de registrá-la em cartório, sabendo que eleitor desconfia de político
em campanha. Dois anos, três meses
e 14 dias depois, estava Palocci em
Brasília para assumir o Ministério da
Fazenda, após ter renunciado ao cargo de prefeito, que se havia comprometido a manter "até o último dia de
mandato".
Palocci tentou o drible em quem cobrava o compromisso assinado: "Minha preocupação não é uma carta, é
o voto das pessoas. Aquela carta dizia
que eu não seria candidato, como
efetivamente não fui", tergiversou.
Petistas já apelidaram o ministro
da Fazenda de Zelig, o homem-camaleão, personagem-título do filme
de Woody Allen lançado em 1983.
Dono de múltiplas personalidades, o
que pode ser entendido como nenhuma, Zelig moldava a sua de acordo
com a do interlocutor.
Foi essa qualidade, se assim pode
ser entendida, uma das razões que levaram Palocci ao Ministério da Fazenda. Concorda com a bancada petista e também com a banca financista. Zelig em estado puro.
Mas é injusto dizer que só Palocci
padeça desse mal, se assim pode ser
entendido. Zelig hoje é um qualificativo de todo o governo petista. José
Serra encontrará precedente fácil para, caso vença a próxima eleição, deixar São Paulo nas mãos do vice Gilberto Kassab (aquele do governo Celso Pitta) e partir rumo ao Planalto.
PT e PSDB, como provam suas administrações de 1995 até hoje, são partidos-camaleões, ambiente nato do Zelig escrevinhador.
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