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CLÓVIS ROSSI
O mundo de Lula
SÃO PAULO - "Eu conheço o mundo, e o mundo me conhece", tem dito, nos "spots" de TV, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
A primeira parte da frase é falsa.
Se Lula conhecesse o mundo, não
levaria a surra que está levando até
dos líderes de países absolutamente periféricos no sistema internacional (Evo Morales, para ficar apenas no exemplo mais recente).
Se de fato conhecesse o mundo,
seu governo não teria perdido todas
as eleições a que se aventurou no
sistema internacional.
Se de fato conhecesse o mundo,
não teria insistido em uma reunião
de cúpula para destravar a chamada
Rodada Doha, de negociações comerciais, ante a visível indiferença
de seus parceiros mais relevantes
no caso. A rodada naufragou.
Se de fato conhecesse o mundo,
deveria naturalmente conhecer
ainda mais o mundo mais próximo,
o latino-americano, no qual, aliás,
predominam hoje dirigentes que
foram ideologicamente próximos
do PT antes de o partido e Lula jogarem no lixo tudo o que disseram
antes de chegar ao poder. Mas é justamente nessa vizinhança que Lula
toma surras mais vistosas.
É permanentemente surpreendido por Hugo Chávez -que, de resto,
lhe roubou o papel de animador da
contestação-, por Evo Morales e
até pelo discretíssimo Tabaré Vázquez, presidente do Uruguai, que se
encaminha para assinar acordo de
livre comércio com os Estados Unidos. Se e quando se concretizar, implodirá o Mercosul e, por extensão,
a Comunidade Sul-Americana de
Nações, que, por sinal, nem saiu
do papel.
A segunda parte da frase ("o
mundo me conhece") talvez seja
verdadeira. Mas, se Chávez, Evo e
Tabaré conhecem Lula, não parecem ter grande respeito por ele, a
ponto de, vira e mexe, estarem fazendo alguma "sacanagem" com o
presidente brasileiro, para usar a
linguagem do próprio desorientado
Lula.
crossi@uol.com.br
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