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Resistência injustificável
JÁ SE sabia que a edição, pelo
Supremo Tribunal Federal,
da súmula vinculante nº 13,
que encerrou o debate sobre o
nepotismo ao proibi-lo quase
por completo na administração
pública, não significaria automaticamente o fim dessa prática.
Surpreende, no entanto, que
uma das maiores resistências à
sua aplicação venha do Senado,
que deveria dar o exemplo.
Anteontem, seguindo orientação da assessoria jurídica, a Mesa
Diretora aprovou resolução autorizando a permanência de familiares contratados antes de os
senadores terem sido eleitos. Segundo o advogado-geral do Senado, deveria prevalecer o "princípio da anterioridade".
A brecha vinha ao encontro de
interesses do senador Epitácio
Cafeteira (PTB-MA), que alegou
ter contratado parentes antes de
assumir o mandato de senador.
Ocorre que a contratação se deu
quando Cafeteira já exercia outro mandato na Casa.
Com a péssima repercussão da
decisão, o presidente do Senado,
Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), afirmou que vai consultar o
procurador-geral da República
sobre o tema. O objetivo seria dirimir supostas dúvidas. Renovou
ainda apelo aos parlamentares,
para que informem se mantêm
ou não parentes na Casa. Muitos
ainda não responderam.
Quase dois meses depois da
edição da súmula, portanto, a
Mesa do Senado ainda debate a
validade da norma. Note-se que a
direção da Casa acaba de apreciar proposta do senador Cafeteira para criar duas secretarias
em cada gabinete e ali acomodar
parentes. Seria uma forma de
driblar a súmula, já que o Supremo abriu exceção para cargos políticos, como ministros e secretários municipais e estaduais.
Continua, dessa forma, a barafunda de manobras para evitar
que a norma antinepotismo, de
interpretação claríssima, seja
aplicada. É inaceitável que tal comédia de mau gosto ocorra na
mais alta Casa legislativa do país.
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