|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
O gato e o arroio
MADRI - Com 54 anos de carreira,
iniciada como diretor da União de
Bancos do Uruguai, Enrique Iglesias é seguramente uma das pessoas
mais bem-informadas do planeta.
Hoje é secretário-geral da Comunidade Iberoamericana, conglomerado de 22 país. Mas exerceu antes
cargo de banqueiro central, no Uruguai, de dirigente da Cepal, que já
foi uma usina de idéias na América
Latina, de presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento,
de chanceler.
Viu de tudo na vida, especialmente crises, item em que a América Latina é uma fartura só.
Mesmo assim, seu espanto com a
crise atual é tamanho que usa uma
expressão uruguaia para descrevê-lo: "Como estará la cañada que hasta el gato pasa trotando?". "Cañada"
é um riozinho, um arroio.
Secou tanto que até os Estados
Unidos mergulham a trote no intervencionismo do Estado.
Mas, atenção, Iglesias tem vivência suficiente para descartar a hipótese de que os Estados Unidos passem a ser ator de segunda na nova
ordem global que, supostamente,
advirá da crise.
Ao contrário, diz que os Estados
Unidos tendem a ser, ao lado da
China, um dos dois pilares da economia mundial assim que passar o
susto. Quando? "Não me atrevo a
prever como e quando termina",
responde, prudente.
Iglesias lamenta que o mundo das
finanças, "que parecia ter as chaves
do Reino", ficou absolutamente
sem controle. Deu no que deu.
Prega, por isso mesmo, "uma economia mundial muito mais regulada". Acha até que será "uma realidade inevitável e necessária".
Mas lembra um detalhe importante: foi nesse mundo desregulado
que a economia cresceu espetacularmente nos últimos tempos. A
questão que talvez algum estudioso
se anime a responder, depois do
terremoto, é se o crescimento foi
por conta da alavancagem excessiva
ou apesar dela.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Resistência injustificável
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: O desvio do compulsório Índice
|