São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 2008

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ELIANE CANTANHÊDE

O desvio do compulsório

BRASÍLIA - Os bancos são as instituições que mais se esbaldam no mundo e particularmente no Brasil, onde os sucessivos recordes de lucro são um escárnio diante da miséria e do analfabetismo. O Bradesco, para ficar num exemplo, fechou 2007 com lucro líquido de R$ 8 bi, 58,5% maior do que em 2006.
Em greve há dias, os funcionários reclamam sua parte do sucesso em salários. E nós, correntistas, queremos mais funcionários para dar conta de filas imensas, apesar da internet, para ter informações confiáveis sobre contas e investimentos e, por favor, para atender o telefone.
Com a crise global, os bancos não estão passando a perna só em funcionários e clientes, mas no governo, como gritou ontem a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti.
Preocupado com a redução de créditos, o governo relaxou as margens dos depósitos compulsórios dos bancos. Para quê? Para que tivessem mais dinheiro para financiar compras, projetos. E o que eles estão fazendo? Comprando títulos públicos do Tesouro Nacional. Ou seja: em vez de garantir o movimento da economia, eles tiram uma casquinha da crise.
Numa das suas manifestações sobre a crise, ora falando do Atlântico, ora de marolas, Lula ensinou aos países ricos que é necessária uma maior regulação sobre os bancos.
No Brasil também, presidente. Eles fazem o que querem -com os que estão lá dentro, trabalhando, e com os que estão aqui fora, produzindo, investindo, comprando ou pagando suas contas do dia-a-dia.
Os EUA já arranjaram uns US$ 250 bi, e a Europa, uns US$ 2 tri para tentar salvar o sistema. E o sistema continua fazendo água por todo lado, com as Bolsas afundando e o mundo mergulhado em incertezas, sem uma bóia a que se agarrar.
Por mais que haja uma lógica nos trilhões de dólares despejados nos bancos, os leigos se perguntam: e se essa grana toda fosse investida em gente? O mundo certamente seria muito melhor.

elianec@uol.com.br


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