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RUY CASTRO
Sangue derramado
RIO DE JANEIRO - Em 1960, um faroeste, "O Álamo", dirigido, produzido e estrelado por John Wayne,
foi candidato ao Oscar em sete categorias, entre elas a de melhor filme.
Era um épico, com 3 sofridas horas
e 12 minutos. Foi de quanto Wayne
precisou para contar o que, para ele
e para muitos de seus patrícios, era
um episódio quase bíblico na história dos EUA -ideal para a Guerra
Fria, então no auge.
O filme tratava da resistência de
184 colonos americanos no forte do
Álamo, perto de San Antonio, em
1836, contra a investida das tropas
do general Santa Anna para retomar o território mexicano do Texas,
que os americanos queriam para
eles. Apesar da colossal inferioridade numérica, os colonos levaram
dias para ser massacrados, permitindo que o general Sam Houston
armasse seu exército e, pouco depois, derrotasse Santa Anna, arrebatando o Texas para suas cores.
Wayne, que pusera dez anos de
trabalho no filme, fez uma campanha agressiva para que "O Álamo"
levasse todos os Oscars possíveis.
Um de seus motes era o de que "o
sangue derramado no Álamo" não
podia ficar impune e quem não votasse em seu filme "não era patriota". Na verdade, Wayne precisava
dos Oscars para salvar "O Álamo"
na bilheteria -jogara nele toda a
sua fortuna pessoal e o público não
estava correspondendo.
Na cerimônia, "O Álamo" ganhou um único e mixérrimo Oscar:
o de melhor som. Os eleitores ignoraram a política e preferiram votar
na qualidade dos filmes. O campeão de estatuetas daquele ano foi,
com méritos, "Se Meu Apartamento
Falasse", a debochada comédia de
Billy Wilder.
Os produtores de "Lula, O Filho
do Brasil", candidato brasileiro ao
Oscar de melhor filme estrangeiro,
são experientes. Sabem que a estratégia de patriotismo usada para
vender "Lula" no Brasil não funcionará em Hollywood. O Oscar ainda
não foi aparelhado.
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