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CESAR MAIA
Ciclos políticos
Há certa tendência do eleitorado em dar aos governos
um prazo maior que o de um
mandato para mostrar a que
vieram. A reeleição é percebida como um mandato de oito
anos, com "recall" no quarto.
Só um governo desastrado
não consegue a reeleição.
Mesmo aqueles com avaliação regular tendem a conseguir o segundo mandato, projetando expectativas a partir
do tempo que precisam. E do
uso da máquina. Nos regimes
parlamentaristas, estes ciclos
costumam ir além dos oito
anos, mas raramente acima de
12 anos. Helmut Kohl, na Alemanha, foi uma exceção: governou 16 anos.
As razões para o esgotamento dos ciclos decenais são
conhecidas. As expectativas
excedem, e vem um julgamento muito mais enérgico que no
primeiro mandato. O eleitorado muda, com a inclusão dos
que eram jovens sem direito a
voto antes. É o conhecido
"desgaste de material" que o
exercício do poder impõe.
"Desgaste de material" é
quando o governante passa a
ter a intimidade do eleitor e
perde a capacidade de criar
expectativas e de surpreender.
A sensação de que as mudanças, ou mais mudanças, não
virão estimula o eleitorado a
buscar a alternância.
No entanto, nada disso é
automático, e menos ainda
compulsório. Depende da
oposição. Quando uma força
política, ou uma coligação, vê
seu ciclo terminar e toma isso
como fracasso seu, e não como a alternância de ciclos,
produto da tendência natural
do eleitor, se precipita e passa
a se autoflagelar. E, assim,
transforma em desastre uma
derrota natural e previsível.
O novo ciclo, que poderia
ser mais curto, termina sendo
mais longo, pela fragilização
da oposição. A entrada de um
novo ciclo político exige das
forças políticas que estão fora
da nova onda paciência e talento. Paciência para entender
esse processo e não ter crises
de ansiedade. Talento para
encurtar a duração da nova
onda.
Em 2002, a percepção da
oposição era que o governo
que assumia produziria um
desastre. Ficou esperando. O
desastre não veio, e uma expansão mundial lhe deu até
conforto. No "mensalão" de
2005, a palavra de ordem que
prevaleceu foi "deixar sangrar". A sangria passou rapidamente, com umas demissões, o crescimento econômico e a intensificação dos programas assistenciais.
Por aqui, um novo ciclo
atrai políticos de um lado para
outro. Nos países em que o voto é distrital ou em lista, com
poucos partidos, isso não
ocorre. Num país federado e
continental como o Brasil, esses ciclos se dão também em
nível regional. E o que se vê,
país afora, é uma ingênua e
imprudente autoflagelação
dos perdedores. Paciência e
talento aos perdedores.
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta
coluna.
cesar.maia@uol.com.br
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