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TROCA DIRETA
O futuro governo brasileiro
pretende propor aos parceiros
de Mercosul que o comércio de produtos agropecuários entre os integrantes do bloco passe a ser feito por
meio de trocas diretas de mercadorias. O mecanismo -cujo nome técnico é "escambo"- permite prescindir da obtenção de divisas, ou de
linhas de crédito em dólar, para viabilizar as operações. Seria uma opção para facilitar as trocas num contexto de generalizada escassez de dólares na região.
A proposta pode parecer exótica
-afinal, o escambo é um tipo de troca característico de economias rudimentares, nas quais as necessidades
econômicas são satisfeitas em grande medida sem o recurso à troca intermediada pela moeda. Porém, no
âmbito do comércio entre países a
prática do escambo não necessariamente denota um retrocesso. Pode
mesmo ser uma opção inteligente.
As trocas comerciais entre países
normalmente são mediadas por uma
moeda de aceitação internacional (tipicamente o dólar, na América Latina). Quando essa moeda escasseia,
as trocas podem ficar emperradas.
A Europa fornece importante precedente histórico de prática de escambo. Ao término da Segunda
Guerra, vários países europeus, carentes de divisas, criaram um sistema de trocas diretas de bens que foi o
embrião da União Européia.
É claro que o Mercosul está longe
de constituir união análoga à Européia. Aliás, bem mais longe do que
parece avaliar parcela da diplomacia
brasileira, ainda apegada à idéia de
fazer do bloco, em breve, uma união
aduaneira -ou seja, uma região
com uma política comercial única,
na relação com terceiros países.
Além da instabilidade macroeconômica, há outros obstáculos à
transformação do Mercosul em verdadeira união aduaneira. Para citar
apenas alguns, há problemas como
as carências e a falta de integração da
infra-estrutura, ou a desarticulação
das políticas de atração de investimentos e de desenvolvimento.
Para que o Mercosul avance, é necessária uma agenda realista. A articulação de mecanismos de escambo
de alimentos pode ser um passo.
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