São Paulo, sábado, 16 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TROCA DIRETA

O futuro governo brasileiro pretende propor aos parceiros de Mercosul que o comércio de produtos agropecuários entre os integrantes do bloco passe a ser feito por meio de trocas diretas de mercadorias. O mecanismo -cujo nome técnico é "escambo"- permite prescindir da obtenção de divisas, ou de linhas de crédito em dólar, para viabilizar as operações. Seria uma opção para facilitar as trocas num contexto de generalizada escassez de dólares na região.
A proposta pode parecer exótica -afinal, o escambo é um tipo de troca característico de economias rudimentares, nas quais as necessidades econômicas são satisfeitas em grande medida sem o recurso à troca intermediada pela moeda. Porém, no âmbito do comércio entre países a prática do escambo não necessariamente denota um retrocesso. Pode mesmo ser uma opção inteligente.
As trocas comerciais entre países normalmente são mediadas por uma moeda de aceitação internacional (tipicamente o dólar, na América Latina). Quando essa moeda escasseia, as trocas podem ficar emperradas.
A Europa fornece importante precedente histórico de prática de escambo. Ao término da Segunda Guerra, vários países europeus, carentes de divisas, criaram um sistema de trocas diretas de bens que foi o embrião da União Européia.
É claro que o Mercosul está longe de constituir união análoga à Européia. Aliás, bem mais longe do que parece avaliar parcela da diplomacia brasileira, ainda apegada à idéia de fazer do bloco, em breve, uma união aduaneira -ou seja, uma região com uma política comercial única, na relação com terceiros países.
Além da instabilidade macroeconômica, há outros obstáculos à transformação do Mercosul em verdadeira união aduaneira. Para citar apenas alguns, há problemas como as carências e a falta de integração da infra-estrutura, ou a desarticulação das políticas de atração de investimentos e de desenvolvimento.
Para que o Mercosul avance, é necessária uma agenda realista. A articulação de mecanismos de escambo de alimentos pode ser um passo.



Texto Anterior: Editoriais: CSN PÓS-PRIVATIZAÇÃO
Próximo Texto: Editoriais: FOME NA ÁFRICA


Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.