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CLÓVIS ROSSI
O clássico ataque ao elo fraco
SÃO PAULO - A linha dura adotada em relação aos controladores de
vôo é um clássico do poder público
brasileiro, em todos os tempos: em
caso de dificuldade, crise ou equivalente, a ordem é desapertar para cima dos mais fracos.
"Militarizar" os controladores,
submetendo-os ao aquartelamento, é uma falsa solução. Pode até minimizar ou eliminar provisoriamente o caos aeroportuário, mas
não ataca nenhum dos três problemas reais, a saber: baixos salários,
más condições de trabalho e equipes reduzidas.
O salário de controladores de vôo
nos Estados Unidos pode chegar a
ser dez vezes superior ao de seus
companheiros brasileiros. Os conformistas dirão: ah, mas a economia
norte-americana tem uma tamanho mais de dez vezes superior à do
Brasil. Logo, os salários estão ajustados à distância que existe entre
um país rico e um país eternamente
emergente, em desenvolvimento,
que nome se queira dar à pobreza
tupiniquim.
É um argumento a ser considerado. Pena que despreze o fato de que,
seja qual for o tamanho da economia, cada controlador faz rigorosamente o mesmo tipo de trabalho, cá
como lá. E as vidas que ajuda a preservar valem a mesma coisa, cá como lá, sejam as de norte-americanos, de tanzanianos, de brasileiros,
de bengaleses, a nacionalidade que
você quiser. A menos que a gente
aceite abertamente a tese que já vigora na prática, de maneira encoberta, de que a bugrada tem menos
direitos que os brancos do Norte.
Dá para resolver o problema de
outra forma que não seja confinando os controladores? Não dá, porque aumentar salários e contratar
mais gente, o que mudaria as condições de trabalho, depende de dinheiro que o Estado brasileiro não
encontra, a não ser quando se trata
de atender os superfortes, os rentistas, que estão levando 40% do Orçamento, ano após ano, e, no momento, 8% do PIB.
crossi@uol.com.br
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